sábado, 24 de maio de 2014

"A POÉTICA ROSEANA" Capítulo 2 subcapítulo 2

2.2 Contexto Histórico


O diabo na rua, no meio do redemunho...
João Guimarães Rosa


       A obra Grande Sertão: Veredas, lançada em 1956, pertence à escola literária denominada Terceira Geração do Modernismo (1945).
            Essa escola, conhecida como a Geração de 45, apresenta, entre as suas principais características, o retrocesso  em relação às conquistas da 1ª geração de 1922, quando teve início o Modernismo no Brasil. A volta ao passado traz uma revalorização do rigor extremo na rima, na métrica, além da presença  do vocabulário erudito e das referências mitológicas. Além disso, essa geração retoma o passadismo e o academicismo e  a  introdução de uma nova cultura internacional nas Letras Brasileiras, segundo Emília Amaral¹ (2003, et al) .
            Na Literatura, surge João Guimarães Rosa apresentando uma obra singular com uma narrativa privilegiando o regionalismo. Entre outros trabalhos destaca-se o romance Grande Sertão: Veredas.
            O ano de 1945 foi de efervescência no plano político, no Brasil, com a  deposição de Getúlio Vargas e o início de um novo período político-social em nosso país. As mudanças se sucedem, nessa área, até o ano de 1964 quando ocorre o Golpe Militar. Adotando modelos políticos populistas, o Brasil tenta encontrar os rumos de seu desenvolvimento o que somente acontece depois da ditadura militar com o  modelo econômico assentado nas multinacionais e no capital nacional.
            Em um cenário em que o Brasil começava a projetar-se mundialmente, uma vez que já havia certa construção da identidade brasileira, na área cultural, promovida pelas  correntes  modernistas, no plano da economia o Brasil ainda era refém de capital estrangeiro. O país buscava a independência através do desenvolvimento econômico e da nacionalização das jazidas minerais.
            Enquanto o País proclamava um discurso desenvolvimentista, Guimarães Rosa através de sua linguagem inovadora se volta para falar dos problemas do sertão e dos seus representantes. O autor dá voz a Riobaldo para desvendar o mundo psicológico e concreto do sertanejo e para dar uma dimensão universal, ou seja, o que elas têm em comum com o restante da humanidade.
            Eleger um grupo social basicamente esquecido e abandonado pelo contexto sociocultural  e político do restante  do País, coloca Guimarães Rosa na contramão da Literatura Brasileira que defendia a modernização do Brasil. 
            Após os eventos literários de 1922, quando foi instaurado o Modernismo, houve uma valorização do que acontecia na vida do País, em todos os aspectos,  no eixo Rio - São Paulo. Até os dias de hoje todas as vanguardas culturais são apresentadas e mais valorizadas a partir dessa  parte do país. E não só os assuntos relacionados às artes em geral. É sabido por todos o inchaço populacional devido à migração e imigração pela crença de que o desenvolvimento econômico e social se restringe, dadas as possibilidades existentes, àqueles  dois estados .
             Deve-se ressaltar-se que muito do que é mostrado, na obra Grande Sertão: Veredas, no que diz respeito à linguagem, na verdade, não são neologismos, mas arcaísmos próprios da região sertaneja e dos  mineiros em geral, desconhecido pelo restante do pais. O que demonstra o ostracismo sofrido por esse grupo sociogeográfico. Além da convicção de que somente o que é produzido naquele eixo  representa a identidade  nacional
            Guimarães Rosa era  mineiro e  certamente aquela situação de descaso por parte das autoridades, da elite nacional e dos intelectuais, quanto à sua região, o incomodava e adrede ele buscou através de sua obra, retratar uma realidade bem diversa do que era apresentado até então, na Literatura Nacional.
            Nunca explicitou isso, claramente. Talvez pela sua polidez e por não gostar de se pronunciar em público. Contudo, pode-se deduzir diante  do  amor declarado pela sua gente. O escritor era um homem do mundo, conheceu vários países durante seu trabalho como diplomata. Como um poliglota falava mais de uma dezena de línguas. Um erudito, no entanto, privilegiou as coisas simples, conhecedor que era  da  essência rica em sentidos,  do refinamento elaborado que configura   o espírito, a personalidade  e o jeito de ser  do mineiro.





[1]As informações contidas nesse capítulo referentes ao contexto histórico da publicação da obra Grande Sertão:Veredas, foram extraídas do livro didático “Novas Palavras” de   Português, Ensino Médio de autoria de Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite e Severino Antônio e encontra-se devidamente referenciado em REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS do presente trabalho.

Um comentário:

  1. Vim agradecer a sua visita e lí os seus textos (como você escreve e faz tão bem uma análise do que leu...) Tenho uma amiga que anda encantada com esta obra e vou recomendar o seu espaço).

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