domingo, 4 de maio de 2014

Dia do Índio


            Dias atrás comemorou-se o Dia do Índio. Muita coisa já mudou, mas ainda é possível ver algumas crianças, escolares, fantasiadas com colares e pinturas de guerra, com o propósito de homenageá-los. Por que e para que? Será isso verdadeiro e agradável para os índios? Creio que não, nos dois casos.
Em abril de 1999 (portanto, alguns anos já se foram e por isso as coisas podem ter mudado ou, infelizmente, se agravado) a Revista Veja começava assim a sua reportagem de capa: “Em qualquer livro de História ou Geografia a chance é grande de você encontrar que:
             – Os índios eram seres primitivos por andarem nus, pela mata catando frutas e matando macacos. Não progrediram pelo fato de serem preguiçosos, o que levou os portugueses a trazerem escravos africanos. Ah, eram tolos! Adoravam espelhinhos e miçangas, pelos quais trocavam suas riquezas.” Você leria que “de norte a sul, todos tinham a cara, língua e costumes parecidos”
            Tais conceitos começaram a mudar a partir da década passada. Pesquisas indicaram que os índios possuíam uma organização mais complexas do que se imagina. Formaram e formam centenas de nações com culturas bem diversas entre si.
            Ainda de acordo com a Revista, “os 300.000 índios que viviam no País não falavam apenas o tupi-guarani – tronco linguístico que abrange 30 nações indígenas – mas cerca de 170 línguas  diferentes. Foi a análise das línguas que permitiu agrupar os índios para melhor ordenar seu estudo.
            Muitos pensam que o futuro desses povos é a extinção, já que aos poucos vão sendo incorporados à população  brasileira. Porém, ao contrário do que se supõe, a grande maioria das nações indígenas  desapareceu porque foram exterminadas.  A partir de 1900, com a expansão da agricultura, abertura de estradas, madeireiras, garimpos, o progresso desordenado e o contato com o homem branco, os povos que se esconderam no interior das matas, também, foram dizimados. Sobraram poucos. Hoje são mais protegidos por órgãos do Governo Federal.
Atualmente, fala-se mais em valorizar a importância e influência da cultura indígena na formação de nossa sociedade. De acordo com o livro “Alfabetização sem Segredos – Eventos Escolares – do mês de abril da autora Maria Radespiel, já podemos repassar às nossas crianças outras informações.
            Então por que comemoramos o Dia do Índio? Porque o índio é um dos  pilares da sociedade brasileira?!    Mas o branco também é! E não existe o dia do europeu! Tampouco o Dia do Negro. Temos o Dia da Consciência negra quando alguns dos seus expoentes nos lembram que querem resgatar a dignidade e valores de sua etnia, que aniquilamos, buscando seus direitos. Embora, os salões de beleza ainda fiquem cheios de jovens, descaracterizando seus traços, agredindo a sua beleza étnica. Mas, nem nesse dia vemos nenhum branco vestido como negro. O que vemos são crianças ainda pequenas alisando os seus cabelos. O que existe então é um assistencialismo piegas a respeito dos índios, o qual não deveria ser tratado como folclore em sua própria terra. Não deveria ser colocado em vitrines “pra gringo ver”!
            O índio nos legou valores que ainda menosprezamos, perdendo, então, um cabedal de conhecimentos ao ignoramos a sua cultura. Assim aprisionamos o canto mais mavioso. (Aqui, em Pará de Minas, costumamos ver pássaros em gaiolas. Alguns algozes se desculpam dizendo que eles não sobreviveriam fora delas. Então, por que os procriam assim? Há algum tempo, havia uma arara, linda, presa numa gaiola minúscula, nos jardins de uma mansão no Parque do Bariri. Qualquer pessoa que passasse na rua poderia ver. Mas quem vai mexer com a elite?! São pessoas tão ilibadas!  Provavelmente colocariam a gente na prisão!)  Traficamos os mais belos, ou não, espécimes de nossa fauna e flora. Cortamos árvores seculares. Poluímos toda espécie de cursos d’água.
            Enfim, desrespeitamos a natureza em todas as suas formas. Nas rinhas de galo, na Festa do Boi, em Santa Catarina, na matança indiscriminada de animais silvestres para saciar apetites exóticos. Dessa forma, é compreensível que o índio não entenda as nossas expressões culturais. Se achamos bizarro seu vestuário, sua dança, etc, o que pensará de nós quando, em diversas situações, nos despimos em público, ou quando nos contorcemos, ridiculamente em cima de uma garrafa, com um som medíocre. Assim sendo, já que também temos nossas esquisitices, devemos tentar compreender e respeitar qualquer manifestação cultural de qualquer povo, e não expô-las para venda. E se os próprios índios já o fazem, infelizmente, nós, e apenas nós, os levamos a essa degradação capitalista.
           Ainda há muito que fazer e descobrir, mas  não há mais dúvida de que os índios têm um passado e uma cultura com valores, apesar  da violenta aculturação imposta pelo branco. Conhecer e ensinar sua história é a única maneira de respeitar e assim garantir a sobrevivência desses brasileiros, verdadeiros donos desse lugar, que têm hoje sua última chance sobre a Terra.

Lécia Freitas

                                                                                                                                          


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