domingo, 6 de julho de 2014

"A POÉTICA ROSEANA" Capítulo 5.5.1

                

                                                                                  Ao que esse mundo  é muito misturado...
João Guimarães Rosa
           
            A sequência do enredo pode ser linear ou não linear. Quando na narrativa o tempo da ação obedece ao relógio tem-se a linearidade. Esse tipo de tempo em que se passa o enredo é chamado de cronológico porque segue os mesmos parâmetros no mundo concreto, mesmo dentro da realidade ficcional. As personagens não pensam no que aconteceu ou no que poderia acontecer. Quando não há predomínio da reflexão a narrativa é linear.
            No caso de Grande Sertão: Veredas, o enredo é não linear. Isso porque a história acontece descontinuamente, com cortes e saltos, com vaivéns na sequência da história. O narrador, Riobaldo, realiza retrospectivas ou antecipações na sua narrativa sobre o que aconteceu na sua vida. Além disso, são constantes as rupturas do tempo e do espaço em que se desenvolve a ação. Comprova-se em passagens do texto roseano:

de tudo não falo. Não tenciono contar ao senhor minha vida em dobrado passos; servia para que? Quero é armar o ponto dum fato, para depois lhe pedir um conselho. Por daí, então, careço de que o senhor escute bem essas passagens: da vida de Riobaldo, o jagunço. (ROSA, 2006, p.216). A qualquer narração dessas depõe em falso, porque o extenso de todo sofrido se escapole da memória.  (ROSA, 2006, p. 402). Talhei de avanço em minha história. O senhor tolere minhas más devassas no contar. (ROSA, 2006, p. 171) O senhor sabe?: não acerto no contar, porque estou remexendo o vivido longe alto, com pouco caroço, querendo esquentar, demear, de feito, meu coração. (ROSA, 2006, p. 176).


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