sábado, 23 de agosto de 2014

"A POÉTICA ROSEANA" Capítulo 5.6.1


5.6.1 Pontuação

            Embora não se configure como um recurso de linguagem, a pontuação, na obra, também é singular e original e por isso deve ser mencionada.  Sobre ela, em seus estudos, Ferreira assinala que:
a pontuação, ainda que não ignore de todo a norma culta da escrita, é bastante subjetiva, não se deixa, portanto, subordinar às regras gramaticais, manifesta-se sobre o ponto de vista estilístico, de acordo com a intenção expressiva da mensagem a ser comunicada, do ritmo a ser impresso ao texto, da entonação e acento na pronúncia de uma palavra ou frase (inflexão). O escritor realiza combinações originais ao empregar os sinais de pontuação, optando pela abundância de travessões, vírgulas, reticências, ponto e vírgulas, interrogações, exclamações, pontos, parênteses, aspas. A pontuação excessiva impede o ritmo dinâmico e rápido, pois a intenção do narrador é prolongar seu relato, saboreando cada sentença. O leitor “esbarra” muitas vezes durante a leitura, para tentar entender os modos de pontuar, que chegam a ter um efeito “audiovisual”; procura descobrir a relação que pode ser estabelecida entre as palavras e os recursos da pontuação, a qual se afina com o sentido do texto. (FERREIRA, 2006 p. 28 a 35).
            Observa-se que o autor emprega esse recurso no sentido de levar o narrador a prolongar o relato, uma vez que a pontuação excessiva desacelera o ritmo da leitura, levando o leitor  a refletir sobre a relação que pode ser estabelecida entre as palavras e os recursos da pontuação e como se conformam com o texto. Além da pontuação deve-se salientar a utilização da linguagem popular e regional, já mencionadas na presente pesquisa, para a composição da linguagem, na obra Grande Sertão: Veredas:
Linguagem Popular: aleluia! Aleluia! Carne no prato, farinha na cuia! / Vingar é lamber, frio, o que o outro cozinhou quente demais. / Bananeira dá em vento de todo lado. / Homem não chora.../ Não cuspo no prato em que o bom já comi. / Quem tem os dois tem um, quem tem um não tem  nenhum.
Regionalismo: era homem afamilhado, tinha filhos pequenos (com família grande).  / [...] é o que o povo agora aprecêia (do verbo apreciar).  [...]  no meio do ierado numa confa (tumulto) [...]  /  [...] questã  (questão) [...] / Saranga ele não era? (simplório)  /  [...]   Varêia de ser (modificação, variação) (grifos nossos). (ROSA, 2006).

      Percebe-se que o uso dessas linguagens, em uma obra de tal magnitude, que leva  uma região rica  no aspecto  metafísico ao conhecimento do restante do país,  contribuiu  para a valoração do  sertanejo . 

2 comentários:

  1. Oi, Lécia!
    A obra citada é de grande riqueza. Achei justo citá-la!
    Ainda lembro das minhas aulas de português e que tinha de decorar muitas regras. Até que a minha professora aconselhou a turma a ler mais e escrever mais, o que nos faria assimilar naturalmente todas as regras necessárias para escrever e pontuar um bom texto.
    Vamos dizer que não parei de ler nunca mais!!
    :)
    Beijus,

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    1. Olá, Luma Rosa! Na verdade, esse texto é parte de minha monografia. Como ela é um pouco extensa tenho postado aos poucos, por capítulos. Talvez para não cansar, ou, quem sabe, para aguçar a curiosidade de quem me der a honra de lê-la. Obrigada por ter vindo e por ler essa parte. Terei enorme satisfação em apresentar-lhe os outros capítulos. Estão em Monografia.
      Quanto ao Português, amo a nossa língua. Por ser bela e por ser um sinal de unidade do povo desta terra, que também amo. Apesar dos maus brasileiros que a infestam.
      Abraços, Lécia

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