domingo, 28 de setembro de 2014

O afinador de silêncios

Saudades

Magoa-me a saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
dói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés

Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas

Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo,
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trêmula, raiz exposta

Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono.


 Mia Couto,  em Raiz de Orvalho e outros poemas.


domingo, 21 de setembro de 2014

"A POÉTICA ROSEANA"





       Com essa postagem,  termino de publicar, aqui, a minha monografia. Resultado de um trabalho longo: quase seis meses de pesquisas, leituras e análises. Mas, devo dizer, muito prazeroso e que me enche de orgulho! Acredito que ficou bom. Na verdade, minha nota foi 100. Não tive medo de que, ao colocar aqui, pudesse ser copiado. Ainda que o seja, o trabalho é meu, a ideia é minha. Se alguém o fizer, pobre dele.
Todas as referências bibliográficas estão publicadas na Monografia original que se encontra na Biblioteca Professor Mello Cançado da Faculdade de Pará de Minas – Fapam. 

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Aqui estão a Dedicatória , os Agradecimentos e a Epígrafe do meu trabalho. Em seguida a Conclusão, última parte da monografia. Creiam-me, é uma honra e uma satisfação que leiam:



 
Dedico esse trabalho:
à minha mãe, Maria,
 que tão antes encantou-se,
pelo meu existir;

ao meu pai, João,
que me falou das coisas da terra
e dos passarinhos;

aos meu irmãos,
Eliana, Hélio, Antônio, José, Maria:
pela infância abortada,
a ternura que não houve,
o bem querer, sempre;

aos meu filhos:
Rodrigo,
a ufania pela semelhança,
a satisfação, o respeito;

Alberto,
a contiguidade na superação,
o amigo, o companheiro;

Luhara,
estrela da vida inteira,
por vezes, na inversão dos papéis,
o esteio;

João,
a incógnita, que amplia o ilimitado
do meu amor de mãe.









 
AGRADECIMENTO
Aquele momento entre a exaustão
 e a certeza de um trabalho bem feito:
Louvado seja Deus, a Ele toda a glória!

Agradeço à  Professora  Doutora Ana Paula Ferreira
pelas orientações primorosas, pelo empenho
e pela atenção, sempre;

à Professora Renata Teixeira, pelo olhar apurado,
em tempo, a exatidão;

à Professora Mestre Vanessa Faria Viana
pelas orientações, pelo incentivo e pelo carinho;

 à Professora Mestre Cristina Mara França Pinto
pelos ensinamentos fundamentais, para toda  vida;

à Professora Especialista Tatiana Pires Bini Dutra,
pela paciência, pela amizade
por tanto, sem palavras;

ao meu cunhado, Eugênio e
à minha irmã Eliana,
pela prontidão em auxiliar
“em tempo sem hora”;

à Elaine Freitas Santos
pela disponibilização do tempo, por tudo;

à Érika Freitas Santos
pelo clarear, ajuda fundamental;

a todos os amigos, especialmente Breno,
Estefânia, Patrícia Lacerda, Vicente,Laís
 Luciana, Derly, Marisa, Rosiane,
Sônia, Eliza, Ellen, Viviane e Edmar
que, de diversas  formas,
 contribuíram para eu estar aqui;

aos meus filhos que estiveram comigo
em todos os momentos dessa travessia:
o meu amor, imenso;

à CONFRARIA NOSSA SENHORA DA PIEDADE
pela concessão integral da bolsa de estudos,
pela possibilidade em  concretizar o impossível.


 
 



Eu queria decifrar as coisas que são importantes. E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder.
João Guimarães Rosa




7 CONCLUSÂO

            Na elaboração do presente trabalho, sobre a estruturação da linguagem poética em Grande Sertão: Veredas, foi possível perceber que Guimarães Rosa utilizou os recursos tradicionais na composição de uma narrativa ficcional.  Além disso, o escritor usou outros meios, já conhecidos em outras obras de sua autoria e que compõem a sua estilística.
            De acordo com as teorias dos autores estudados, conhece-se a língua materna através dos enunciados concretos ouvidos e reproduzidos e que, ao assumir um discurso, o indivíduo busca escolher os meios de expressão que melhor configurem seu ideal linguístico conforme a sua consciência ideológica. A linguagem refere-se ao mundo através de significados e tem o poder de imaginar o novo e o inexistente.
            Assevera-se que para renovar a língua e conferir-lhe um aspecto poético, o autor faz uso de neologismos e figuras de linguagem, preponderantes nesse processo, principalmente a metáfora por constituir a característica fundamental da linguagem poética. A linguagem, em Grande Sertão: Veredas, em diversos momentos, se torna heteróclita devido à agramaticalidade que se define  como um desvio  linguístico,   mas se  constitui como um traço específico da poesia. O desvio linguístico, nesse caso, é considerado como um estilo, segundo Jean Cohen (1974).
            Na obra em estudo, Guimarães Rosa utiliza os desvios linguísticos o que confere uma singularidade à sua linguagem. Contudo, ressalta-se a capacidade do escritor no uso da plurissignificação das  palavras  tornando-as mais expressivas, o que reforça a linguagem poética. Para Bakhtin a língua do poeta é sua própria linguagem, ele está nela e é dela inseparável (2002). Embora influenciado por outras vozes, em sua consciência ideológica, o poeta elege uma linguagem e se apropria dela.
             Dentro do seu estilo, Guimarães Rosa atribui à palavra uma nova significação, novo arranjo, criando a linguagem poética.
            Destarte, pode-se concluir que Guimarães Rosa ao ouvir as histórias dos sertanejos e de seus contemporâneos, no sertão de Minas Gerais, e conforme sua consciência linguística, em determinado momento histórico e social, captura a língua e lhe dá uma roupagem nova com nuanças, cores e sons inimagináveis.
            Numa segunda assertiva, afirma-se que de acordo com a consciência linguística e de sua visão da realidade, Guimarães Rosa se apropriou da língua materna e a reinventou com o propósito de revitalizá-la e conforme os novos significados, refigurar o mundo através da linguagem literária.
            Para o embasamento busca-se Jean Cohen em Estrutura da Linguagem Poética que defende que o poeta é poeta pelo que disse, e sua genialidade se deve à sua criação verbal. Segundo esse autor não existe uma língua poética, mas uma linguagem poética, e que o poeta inventa essa linguagem para dizer aquilo que não teria dito de outra forma (1966)
            Diante disso, assenta-se que a linguagem poética, exibida na  obra Grande Sertão: Veredas, e conforme  a proposta de investigação,  torna-se um ícone essencial para a estruturação da temática lírico-amorosa devido á própria potencialidade. Essa linguagem, explorada pelas necessidades estilísticas e pela subjetividade do autor, flui com a poesia cristalizada em seu interior e  envolve de uma forma mais expressiva e contundente  o amor dos protagonistas, concretizado tão somente na memória e  nas palavras do narrador.
            Uma terceira assertiva derivada do texto roseano assegura que por meio dessa linguagem em que Guimarães Rosa mostra uma nova perspectiva da realidade ou mesmo a verdadeira, nas questões outras relacionadas ao dimensionamento humano e apresentadas na obra, ele possibilita uma catarse através da filtração de sentimentos pelas emoções produzidas, no ato da leitura, o que ocasiona  a transformação do ser .
            Ao término dos estudos e diante das questões propostas nesse trabalho, sobre a estrutura poética de Grande Sertão: Veredas, pode-se apontar em que bases ela se edifica. De acordo com os estudos dos autores já citados, afirma-se que a poética roseana estrutura-se potencialmente na estilística do autor, ou seja na linguagem singular em que são utilizados todos recursos analisados no presente trabalho.
            Desses recursos, destacam-se as figuras de linguagem, principalmente a metáfora que adquire uma dimensão extralinguística ao assumir as inúmeras possibilidades de significação da palavra e os neologismos. Assevera-se, portanto, que a linguagem poética de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas forma-se através da capacidade inventiva do autor no trato com as palavras e na sensibilidade por atribuir ao termo comum a função emotiva, revestindo-o de beleza e lirismo.
            Confirma-se que a linguagem utilizada pelo autor configura-se como um ícone essencial para a estruturação do lirismo amoroso na obra Grande Sertão: Veredas. Essa linguagem contribui para enaltecer de forma mais expressiva e contundente o amor dos protagonistas. Acredita-se que essa linguagem é explorada tanto pelas necessidades estilísticas quanto pela subjetividade do autor. No primeiro aspecto, através do estilo, Guimarães Rosa renova a língua portuguesa imprimindo-lhe um caráter inaugural. Já no segundo aspecto – a subjetividade -  o autor  coloca a sua visão sobre questões delicadas e complexas, como o homossexualismo, maniqueísmo, injustiças sociais entre outros, conferindo  universalidade e o caráter atemporal  à obra  Grande Sertão: Veredas.

                                                                     Lécia Conceição de Freitas
                                                                          Pará de Minas / 2013
           








sexta-feira, 19 de setembro de 2014

"A POÉTICA ROSEANA" Capítulo 6


6. A PROSA, A POESIA E O AMOR


            Na elaboração desse última seção  pretendeu-se utilizar a mesma linguagem poética do autor e permitiu-se a transparência da oralidade. Ao assumir tal  procedimento tenciona-se comprovar e destacar a expressividade mencionada na proposta da pesquisa.

6.1 A história “milmaravilha...o amor de ouro da flor”. 


            Guimarães Rosa monta em seu cavalo e vai ao sertão. Nas trilhas e veredas observa, anota, ouve lendas e “causos”. Coisas de mineiro. Dos rios trouxe o respeito e a admiração. No olhar, gravado, o buriti, e na memória os sons  das serras e chapadões: “o ronco do trovão, o “chiim” dos grilos” (ROSA, 2006, p.29) e o canto dos pássaros todos. “O brilho da lua, luã, a gargaragem da onça preta” (ROSA, 2006, p. 26) e “no colo o vento verde”(ROSA, 2006, p. 290). Com sua linguagem encantada ele vai falar dessas coisas e das lutas dos jagunços. Vai falar de Diadorim – a neblina. E do amor. Amor que existiu só no olhar. Nunca o sertão viu um amor assim: Riobaldo e Diadorim.
            Riobaldo, criança, encontra  o Menino no Porto do De-Janeiro e desde o primeiro instante,  ele é “preso”  com aquele verde olhar :
aí pois de repente, vi um menino, encostado numa árvore e pitando um cigaro. Ali estava com um chapéu de couro, de sujigola abaixada, e se ria para mim. [...] E era um menino  bonito, claro, com a testa alta e os olhos aos-grandes verdes. (ROSA, 2006, p. 102).

            Vivem a primeira aventura de atravessar o rio São Francisco  numa canoa. Diadorim lhe fala da coragem e mostra no “mato da beira”, (ROSA, 2006, p. 103) a vida, as cores:
“as flores”...No alto eram muitas flores, subitamente vermelhas, e roxas do mucunã. Um pássaro cantou. Nhambu? Não me esqueci de nada, o senhor  vê. Aquele menino, como eu ia poder delembrar?  Eu queria que ele gostasse de mim. (ROSA, 2006, p. 104).
            Quantos anos se passaram, mas Riobaldo não esquece! “Ah, Diadorim... E tantos anos já se passaram.” (ROSA, 2006, p.191)
            Na procura de si mesmo, pelo sertão, Riobaldo reencontra o Menino, de nome Reinaldo, que lhe confessa chamar-se Diadorim. Jagunço, vive para guerrear, mas com os olhos – novamente os olhos grandes, verdes – prende Riobaldo, que o segue para onde for:
e ele se chegou, eu do banco me levantei. Os olhos verdes, semelhantes grandes, o lembrável das compridas pestanas, a boca melhor bonita, o nariz fino afiladinho O menino me deu a mão: e o que a mão diz é o curto; às vezes pode ser o mais adivinhado e conteúdo. E ele como sorriu. Digo ao senhor: até hoje para mim está sorrindo. (ROSA, 2006, p. 138).
            Riobaldo está ali por um acaso, não pensou em ser jagunço. Mas naquele momento seu destino está sendo traçado. Ele reencontrou o Menino do Porto, encontrou Reinaldo/Diadorim, e sabe que desde agora, para  sempre, suas vidas estão atadas:
e desde que ele apareceu, moço e igual no portal, eu não podia mais, por meu próprio querer, ir me separar da companhia dele, por lei nenhuma; podia? O que entendi em mim: direito como se, no reencontrando àquela hora aquele Menino – Moço, eu tivesse acertado de encontrar, para o todo sempre, as regências de uma alguma a minha família. Sem peso e sem paz, sei, sim. Mas, assim como sendo, o amor podia vir mandado do Dê? Desminto (ROSA, 2006, p. 109).

            No sertão, as paragens são lindas. Riobaldo, em meio à natureza vê Diadorim. Ambos fazem parte  daquele mundo. Percebem cada elemento que o  compõe.
Diadorim e eu, a gente dava passeios... Mariposas passavam muitas, por entre as nossas caras, e besouros graúdos esbarravam. Puxava uma brisbrisa. O ianso do vento revinha com o cheiro de alguma chuva perto. E o chiim dos grilos ajuntava o campo aos quadrados. Por mim, só, de minúcia não era capaz de me alembrar; mas a saudade me alembra. Que se fosse hoje. Diadorim pôs o rastro dele para sempre em todas as quisquilhas da natureza...Diadorim, duro sério, tão bonito, no relume das brasas. Quase que a gente não abria a boca; mas era um delém que me tirava para ele – o irremediável extenso da vida. (ROSA, 2006, p. 29).

          A vida seguia seu rumo, nos confins do sertão, e apesar das batalhas o amor era forte, recrudescia. Riobaldo não atinava com o que lhe acontecia, mas queria uma resposta de Diadorim. O desejo carnal tirava-lhe o sossego:
tudo turbulindo. Esperei o que vinha dele. De um acêso, de mim eu sabia: o que compunha minha opinião era que eu, às loucas, gostasse de Diadorim, e também, recesso dum modo, a raiva incerta, por ponto de não ser possível dele gostar como queria, no honrado e no final. Ouvido meu retorcia a voz dele. Que mesmo, no fim de tanta exaltação, meu amor inchou, de empapar todas as folhagens, e eu ambicionando de pegar em Diadorim, carregar Diadorim nos meus braços, beijar, as muitas demais vezes, sempre (ROSA, 2006, p.39).
            E na revelação do amor, talvez por já ser tão forte, não houve assombro, não houve questões. Em Guararavacã, o aprazível lugar, onde a natureza se faz em festa com o canto do joão-pobre e o  vento que fuchica as folhagens ali, e lá longe, na baixada do rio,  balança o pendão branco das canabravas.  Riobaldo  caminha por uma “vereda em capim te-te que verde”. (ROSA, 2006, p. 290) e sente saudades, dessas que respondem ao vento. Saudades dos Gerais. “O remôo do vento nas palmas dos buritis, quando ameaça tempestade. Alguém esquece isso? O silêncio é verde.” (ROSA, 2006. p. 290) “Riobaldo ouve de dentro do mato o barulho de um macuco que vem andando, “sarandando”, “macucando”, e se ri:   “- Vigia este, Diadorim”. (ROSA, 2006, p. 290)   Mas Diadorim não ouviu:  
o nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente – Diadorim meu amor.... Como é que eu podia dizer aquilo? Explico ao senhor: como se drede fosse para eu não ter vergonha maior, o pensamento dele que em mim escorre figurava diferente, um Diadorim assim meio singular, por fantasma, apartado por completo do viver comum, desmisturado de todos, de todas as outras pessoas – como quando a chuva entre-onde-os-campos. Um Diadorim só para mim. Tudo tem seus mistérios. Eu não sabia. Mas, com minha mente, eu abraçava com meu corpo aquele Diadorim – que não era de verdade... Aquilo me transformava, me fazia crescer dum modo, que doía e prazia. Aquela hora, eu pudesse morrer, não me importava (ROSA, 2006, p. 290-291).
            A partir daí, Riobaldo se deixa levar por esse amor, e ele  sofre porque  quer “deslizar os dedos de leve  nos meigos olhos dele, ocultando, para não ter de tolerar de ver assim o chamado, até que ponto esses olhos, sempre havendo, aquela beleza verde, me adoecido, tão impossível...” (ROSA, 2006, p.46). [...] “abraçar aquele corpo com as asas de todos os pássaros”. Riobaldo percebe, de repente esse amor descomum, “com meu coração nos pés, por pisável; e dele o tempo todo eu tinha gostado. Amor que amei – daí então acreditei.” (ROSA, 2006, p.238). Busca a sua presença, mas Diadorim foge – ele é a “neblina”.
            Riobaldo sente o amor cada vez mais forte. “Eu estava o tempo todo quase sempre com Diadorim”. (ROSA, 2006,  p.18).  Mas como?! Um igual. “De que jeito eu podia amar um homem, meu de natureza igual, macho em suas roupas e suas armas, espalhado rústico em suas ações?!” (ROSA, 2006, p. 495). Até que reconhece o sentimento que lhe domina os sentidos. Riobaldo “sabe”: Diadorim também o ama. Porém ele é “o em silêncios”. “De todos menos vi Diadorim: ele era o em silêncios.” (ROSA, 2006, p. 464).
            Diadorim quer vencer Hermógenes e vingar o pai. Promete a Riobaldo a revelação de um segredo depois que concluir o feito. E eles vão para as batalhas mais sangrentas cumprir o “irremediável extenso da vida.” (ROSA, 2006, p. 29). Riobaldo, sempre perto de Diadorim, busca-o com o olhar na empatia do querer:
mas eu gostava dele, dia a mais dia mais gostava. Diga o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara  e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar longe, e eu só nele pensava. E eu mesmo não entendia então o que aquilo era? Sei que sim. Mas não. E eu mesmo entender não queria. Acho que. Aquela meiguice, desigual que ele sabia esconder o mais de sempre. E em mim a vontade de chegar todo próximo, quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos braços, que às vezes adivinhei insensatamente (ROSA, 2006, p.146).
Uma promessa? Depois da vingança, quem sabe? É o que se espera:
para meu sofrer, muito me lembro. Diadorim, todo formosura. – “Riobaldo, escuta: vamos na estreitez deste meu passo...”- ele disse ; e de medo não tremia, que era de amor – hoje sei. – “ ...Riobaldo, o cumprir de nossa vingança vem perto... Daí, quando tudo estiver repago e trefeito, um segredo , uma coisa vou contar a você...” (ROSA, 2006, p. 510).
          Mas o inimigo é forte, é cruel. Tem pacto com o Demo, dizem. No meio da rua, no redemunho... a luta, quase não se vê. Tanta poeira. No fim Riobaldo tem a confirmação: Diadorim tinha morrido:
pelas lágrimas fortes que esquentavam meu rosto e salgavam minha boca, mas que frias já rolavam . Diadorim, Diadorim, oh, ah, meus buritizais levados de verde... Burití, do ouro da flôr ...Diadorim –  nú de tudo . E a Mulher diz :  –  A Deus dada. Pobrezinha. (ROSA, 2006, p.598).
            A dor estarrece. Ele, que é ela, se foi. O que fazer com todo o amor, esse amor. O ser sucumbe à ausência:
eu estendi a mão para tocar naquele corpo, e estremeci, retirando as mãos para trás, incendiável: abaixei meus olhos. E a Mulher estendeu a toalha recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca ....Eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo: – Meu amor! (ROSA, 2006, p. 599).
            “Aqui, a estória é acabada.” (ROSA, 2006, p. 600).
            Guimarães Rosa continua a contar: o caso dos “finalmente, do estado das coisas”.
            A obra Grande Sertão: Veredas torna-se singular devido à linguagem, tão decantada e nem assim desvelada em todos os seus mistérios. Nesse trabalho, entretanto, tencionou-se enfatizar a intensa fala poética, principalmente na moldura do amor dos protagonistas. Vale ressaltar que diante do extenso e complexidade da obra, o presente estudo pretendeu privilegiar os fragmentos mais significativos e que se “alinhavavam” no contexto do presente trabalho. 






A Poetisa mineira

A Serenata

Adélia Prado

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele virá com a boca e mão incríveis 
tocar flauta no jardim.

Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos: 
ou viro doida ou santa.

Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.

Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.

De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

domingo, 14 de setembro de 2014

"A POÉTICA ROSEANA" Capítulo 5.6.4


              O autor também surpreende ao criar verbos que atribuem outro sentido às ações, expandindo as possibilidades denotativas das palavras e conferindo um mérito poético em termos absolutamente insólitos, como se pode conferir em fragmentos do texto na obra:
[...] adramado pensei em minha mãe (comovido) [...] / [...]eles   desqueriam (rejeitavam) [...] / [...] jagunceando (atuando como jagunços) [...]  /  [...] Eu mesmeava (repetia) [...]  /  [...] manhãzando  ali (amanhecendo) [...]  /  [...]  prosapeavam (conversavam) [...]  /  [...] Tapejar o bando de Joca Ramiro por atalhos ( conhecer os caminhos para conduzir) [...] (grifos nossos).
            Comumente o termo “sertão” é o que mais adquire conotação no texto. Também a cor verde quando Riobaldo fala dos olhos de Diadorim. Outro exemplo poético está em: “o silêncio é verde. O senhor pegue o silêncio e põe no colo. / O verde carteado do grameal. (ROSA, 2006, p. 290-313). Outros elementos da natureza como o vento  em: “vento de não deixar se formar orvalho [...]  / [...] um punhado quente de vento passante entre duas palmas de palmeiras (ROSA ,2006, p.26); os animaizinhos, como os grilos e os pássaros, com suas cores e cantos, também assumem um efeito conotativo. O autor atribui à palmeira buriti, em diversos momentos, uma conotação especial o que demonstra o amor que tem por esse espécime da flora. “E como cada vereda, quando beirávamos, por seu resfriado, acenava para a gente um fino sossego sem notícia – todo buritizal e florestal: ramagem e amar em água”. (ROSA , 1976, p. 233).
            Também em outras obras Guimarães Rosa fala com emoção dessa palmeira:
[...] os buritis faziam alteza, com suas vassouras de flores. Só um capim de vereda, que doidava de ser verde – verde, verde, verdeal. Sob oculto, nesses verdes, um riachinho se explicava: com a água ciririca – “Sou riacho que nunca seca...” – de verdade, não secava. Aquele riachinho residia tudo. (ROSA “Uma estória de amor”, do Corpo de baile, 1977, p. 189)
Mas o buriti era tão exato de bonito! (ROSA “Campo geral”, do Corpo de baile, 1977, p. 67).
O buriti? Um grande verde pássaro, fortes vezes. Os buritis estacados, mas onde os ventos se semeiam. (ROSA, “Buriti”, do Corpo de baile, 1965, p. 97).
            A palavra “neblina”, em diversas situações, tem um efeito conotativo quando é associada à personagem Diadorim. A neblina é aquilo que embaça a visão, que não deixa ver além. Ao relembrar a figura de Diadorim, Riobaldo a mantém como a neblina, pois, para Riobaldo, o sentimento amoroso que nutria pelo amigo ainda é confuso. “Em Diadorim, penso também – mas Diadorim é minha neblina” (ROSA, 2006, p. 24)
            Finalizando esse capítulo, veja-se o fragmento do texto roseano:
ah, o meu Urucuia, as águas dele são claras certas. E ainda por ele entramos, subindo légua e meia, por isso pagamos uma gratificação. Rios bonitos são os que correm para o norte, e os que vêm do poente – em caminho para se encontrar com o sol. E descemos num pojo, num ponto sem praia, onde essas altas árvores – a caraíba-de-flor-rôxa, tão urucuiana. E o folha-larga, o aderno-preto, o pau-de-sangue; o pau-paraíba, sombroso. O Urucúia,  suas abas. E vi meus Gerais! Aquilo nem era mais mata, era até florestas! Montamos direto, no Olho-d’Água-das-Outras, andamos, e demos com a primeira vereda – dividindo as chapadas – : o fla-flo de vento agarrado nos buritis, franzido no gradeal  de duas folhas altas; e sassafrazal – como o da alfazema, um cheiro que refresca; e aguadas que molham sempre. Vento que vem de toda parte. Dando no meu corpo, aquele ar me falou em gritos de liberdade. Mas liberdade – aposto – ainda é só alegria de um pobre caminhozinho, no dentro do ferro de grandes prisões. Tem uma verdade que se carece de aprender, do encoberto, e que ninguém, não ensina: o beco para a liberdade se fazer. Sou um homem ignorante. Mas, me diga o senhor: a vida não é uma cousa terrível? Lenga-lenga. Fomos, fomos...(ROSA, 2006, p. 306).

            Nesse fragmento é possível verificar grande parte dos elementos já citados e analisados no presente trabalho. Observa-se a pontuação sofisticada, o neologismo  o aforismo, o arcaísmo, as belezas naturais, a agramaticalidade, a justaposição das orações, a metáfora  e,  principalmente, a poesia.
            Prosseguindo no entendimento da estruturação da linguagem poética na obra Grande Sertão: Veredas, falar-se-á no último capítulo sobre a prosa que se reveste de poesia”. É prosa porque é linguagem. E é poesia porque é linguagem  encantada.





sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Formação de Professores

INTRODUÇÃO

            Apresenta-se neste trabalho um resumo de apostilas que trata sobre a formação de docentes, seja a formação “inicial” ou a “continuada”.
           Os textos esclarecem sobre as noções dessa formação, as inadequações de termos e como ela se configura atualmente.
            Elucida, também, sobre a formação docente na América Latina e no Caribe.
        Além disso, cita-se sobre a formação de professores da Educação Infantil e suas especificidades, com dados e argumentos de estudiosos do assunto.
.           O embasamento se dá através de Leis, Decretos e Pareceres citados.

 FORMAÇÃO INICIAL

Segundo a autora Márcia Angela da Silva Aguiar, é a denominação dada à formação de docentes para o magistério da educação básica que se efetiva em cursos de formação de professores, mediante um currículo direcionado ao exercício profissional. A formação de professores suscita questões no campo da discussão teórica, da prática pedagógica e da legislação educacional, uma vez que entre as posições conflitantes, uma visualiza  a formação de professores como profissionais competentes para o mercado de trabalho; a outra situa a formação de docentes como educadores com sólida preparação cultural,  científica, e política e não apenas profissional. As entidades acadêmicas convergem para a última posição por pugnarem por uma educação emancipadora.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional dispõe que, para a formação de docentes, a educação será ministrada em instituições de ensino superior, públicas e privadas, com variados graus de abrangência ou especialização. Em decorrência, o Decreto nº 2.207/1997 classificou os tipos de instituição de ensino superior do Sistema Federal de ensino quanto à sua organização acadêmica em: universidades, centros universitários, faculdades integradas, faculdades, institutos superiores ou escolas superiores.  
No que concerne à formação de professores para a educação infantil e para as quatro séries do ensino fundamental, a lei admite seu preparo, em nível médio, na modalidade normal, por meio do Parecer CNE/CEB nº 01/1999. Contudo, a Lei de Diretrizes e Bases dá primazia à formação de professores no ensino superior, ao dispor que até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço.
O Decreto nº 3.275/1999 definiu o Curso Normal Superior como espaço exclusivo para a formação dos professores de Educação Básica, gerando insatisfações na comunidade acadêmica e  nos sindicatos de profissionais da área, que reivindicaram do Executivo Federal a anulação dessa prerrogativa. Após outros embates, Pareceres e Decretos, os artigos 62, 63,  e 64 da LDB, que tratam da formação de profissionais da educação, o Decreto nº 3.554/2000, não deixam dúvidas da opção do legislador pela formação inicial em  nível superior para todos os docentes.

FORMAÇÃO CONTINUADA

De acordo com o autor, Júlio Emílio Diniz Pereira, a  noção de formação de professores foi, por muito tempo, restrita ao atendimento a cursos de preparação de professores nas universidades, nas instituições de ensino superior ou de ensino médio (Curso Normal). A partir da segunda metade  dos anos oitenta, começa a ganhar força a ideia de que a formação de professores não termina com a conclusão do curso preparatório dividindo-se em duas etapas: a formação “inicial” e a “continuada”. Isso porque há no Brasil um enorme contingente de pessoas que ao ingressar em um curso ou programa de formação docente, em uma instituição superior, já atua no magistério. A chamada formação continuada, tornou-se uma expressão conhecida, no Brasil, surgindo, então, diversas críticas a essa visão compartimentada de “degraus de formação”. Para superar essa concepção de formação dos professores, sugeriu-se examinar a formação docente como um processo que acontece em um continuun entre a formação “inicial” e a “continuada”. Tal ideia de formação passou a ser cada vez mais difundida nos meios acadêmicos brasileiros.
Todavia, a formação continuada que se conhece configura-se em ações isoladas, pontuais e de caráter eventual, predominando a visão de oferta de cursos de curta duração, aperfeiçoamento ou reciclagem. Nos cursos de pós-graduação lato sensu, os temas e os conteúdos ali tratados não necessariamente refletem as necessidades formativas dos docentes. Os certificados  podem significar um pequeno aumento percentual  nos salários dos professores, mas não trazem muitos ganhos para sua prática de ensino em sala de aula.
Ao discutir a formação  continuada dos professores, não se pode esquecer do princípio de indissociabilidade entre a formação e as condições adequadas para a realização do trabalho docente. Do contrário, poder-se-ia assumir de um lado, uma posição de que tudo de ruim que existe na educação escolar acontece devido aos professores e sua “má formação” ou, de outro , a postura de que os docentes não têm nada a ver com os problemas atuais da escola sendo, portanto, vítimas de um sistema social e educacional perverso e excludente. Tais posições, adotadas, nessa ordem, pelas secretarias de educação e pelos sindicatos dos professores não são produtivas e pouco contribuem para o avanço do debate e para a solução dos problemas de nossos sistemas de ensino.
Se garantidas as condições adequadas de realização do trabalho docente, concebe-se a escola como um lócus privilegiado para o desenvolvimento profissional dos docentes, ou seja, um espaço de construção coletiva de saberes e práticas. A participação dos sujeitos nesse processo é considerada, por si só, extremamente formativo. Ressalta-se que uma investigação sobre a escola é uma atividade fulcral nesse tipo de formação e desenvolvimento profissional.
Essa ideia de “formação continuada” não impede, porém,que os docentes se distanciem, de tempos em tempos, da realidade em que vivem, encontrem profissionais de outras escolas e vivenciem momentos intensos de estudos de fundamentação teórica de suas práticas, de trocas de saberes experenciais, de conhecimento de outras realidades, bem como de reflexão individual e coletiva de suas ações.
Por fim, a literatura especializada insiste em alertar que a precarização das condições,  a intensificação do trabalho e o maior controle sobre os docentes levam à deformação gradativa desses profissionais a partir do momento que eles se inserem nas redes de ensino.

 FORMAÇÃO EM SERVIÇO

Segundo a estudiosa Vera Maria Nigro de Souza Placco é um processo complexo que envolve a apropriação de conhecimentos e saberes sobre a docência, necessários ao exercício profissional, em que se torna a escola como um lócus privilegiado para a formação. Parte do pressuposto do professor  como sujeito capaz de criar e recriar sua própria formação, assumindo-se como protagonista desse processo em que ele vivencia de forma deliberada e consciente  a construção de sua autonomia e autoria profissional, em um movimento de ser, pensar e fazer a docência. A formação, então, supõe uma visão de sujeito integrado em que o afetivo, o social, o cognitivo e o volitivo se constituem  de maneira imbricada.
Pela sua ocorrência na escola, se ocupa dos saberes profissionais emergentes do contexto da ação, desafia o coletivo de professores a gerar sentidos e coerência para a atuação individual e do grupo. Nesse sentido, os professores e coordenadores aprendem sobre si, sobre os outros e sobre seu trabalho em contexto, ou seja, aprendem sobre seu trabalho.
O processo de formação em serviço, em qualquer escola, precisaria atender a um conjunto  de circunstâncias como estar atrelado ao Projeto Político Pedagógico, organizado e implementado pelos profissionais da escola, entre outras.
Outros aspectos de outra ordem, mas de igual relevância, destacam-se como a consideração e valorização das formas de trabalho didático e vivencias do professor de modo a lhe permitir , e ao coletivo de professores, a reinvenção de suas ações , de suas crenças, de suas práticas, de suas histórias. Exigindo uma troca entre eles, uma partilha de acertos e dúvidas, uma superação de dificuldades, além da reflexão sobre os referenciais teóricos escolhidos como subsídios aos princípios de formação e educação propostos

 FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Segundo a autora Mônica Appezzato Pinazza, a formação de professores da educação infantil destina-se aos docentes que atuam nessa área. Considerada a primeira etapa da educação básica brasileira, conforme a Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1966), é oferecida em creches (0-3 anos)  e pré-escolas (4-5 anos). As especificidades da faixa etária de 0 a 5 anos, requerem circunstâncias particulares do trabalho docente, o que implica uma formação profissional alinhada às funções sociais e educacionais das instituições  de educação infantil. Documentos oficiais apontam a formação profissional como um dos fatores de promoção da melhoria das práticas educativas com as crianças  pequenas. Estudos sobre o assunto destacam como um grande problema a falta de especificidade da formação docente para atuar com crianças pequenas indicando em pesquisas recentes pouco avanço e inovação nos cursos de formação inicial e grande parte dos programas de formação contínua em serviço.
Os programas de formação devem centrar-se na especificidade da profissionalidade docente, onde se destaca as características da criança pequena que exige dos adultos o reconhecimento de sua vulnerabilidade e o respeito a suas competências; a diversidade das tarefas que incluem os cuidados básicos de higiene, alimentação e bem-estar da criança, passando por práticas que permitam experiências de diferentes natureza e aquisições múltiplas além das interações com outros contextos de vida da criança (pais, familiares, comunidade). Os programas de formação devem comprometer-se em valorizar as identidades próprias das instituições de educação,infantil como forma de investir positivamente no processo identitário dos professores.
          
 FORMAÇÃO DOCENTE NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE

De acordo com os autores Magaly Robalino Campos e Diego Rendón Lara, os países enfrentam o desafio de formular e implementar políticas que assegurem as condições necessárias para o exercício pleno e satisfatório da profissão docente.
No entanto, as reformas educativas levaram os docentes e os dirigentes institucionais a serem considerados no mesmo nível que outros “insumos” o que levou à implementação, nos países latino–americanos, de estratégias de formação continuada ou em serviço, destinadas a remediar os vazios que impedem a melhoria das práticas docentes.
Hoje se busca avançar rumo a sistemas  de desenvolvimento profissional docente como processos contínuos de aprendizagem ao longo da vida profissional. As bases sociais e culturais das quais se nutre a profissão docente caracterizam e condicionam, em alto grau, o alcance e significado que dentro de cada sujeito adquire o processo global de formação e desenvolvimento profissional.
O sistema integral da formação e desenvolvimento profissional docente ao longo da vida se constrói na institucionalidade de sistemas que integram âmbitos fundamentais como a formação inicial com forte ênfase na prática contribuindo para a recuperação da escola como o espaço privilegiado da aprendizagem; formação para a inserção na profissão, fundamental na construção de certezas; formação in situ em que a combinação  das modalidades de formação em terreno mostra ser capaz de potencializar a aplicação das práticas docentes; formação em equipes, formação entre pares são cenários privilegiados para potencializar um tipo de formação em serviço  baseada na reflexão e no apoio entre colegas.

Relações entre formação, profissão e trabalho docente
A necessidade de consolidar um novo “profissionalismo docente” interpela a formação a dialogar com os outros fatores do desempenho docente e a produzir mudanças profundas e pertinentes em seus modelos.
Há duas forças impulsoras das mudanças em formação docente, aponta Eleonora Villegas-Reimers (2002).  Uma força é intrínseca e provém do interior da comunidade dos educadores que tentam conceber o professor e formá-lo como um profissional corresponsável pelos resultados da sala de aula e da escola e participa no espaço maior das decisões de política educativa; a outra é externa e provém dos funcionários de governo tanto  em nível estadual como federal e busca promover o controle, o desenvolvimento de padrões, a medição do desempenho e a formação do professor em função desses padrões e suas medições. Em vários países latino-americanos, são palpáveis as disfunções entre a formação inicial e as características laborais do espaço educativo formal que exigem habilidades para as quais o novo docente não foi preparado e que acabaram por gerar uma ruptura interna entre a imagem docente e a realidade.
O questionamento aos processos de formação a partir de análise de contextos educativos específicos teve maior importância a partir de pesquisas sobre trabalho docente como as realizadas pela UNESCO em 2006. Do mesmo modo, a desigualdade de contextos e oportunidades atravessam o exercício da profissão e referem-se a problemas estruturais dos sistemas educativos como a coexistência da escolarização de massa com a pobreza e a exclusão, de acordo com Tenti Fanfani, (2005).
O tratamento dos temas docentes é um dos desafios mais complexos e urgentes que defrontam os países, como uma responsabilidade social associada ao cumprimento do direito de todas e todos a uma educação de qualidade.

 CONCLUSÃO

        A elaboração do presente trabalho consistiu em resumir-se apostilas sobre a formação de docentes, tanto a formação “inicial” como a formação “continuada” .
         Para tanto, empreendeu-se uma leitura e análise dos textos que  esclarecem sobre as noções dessa formação, as inadequações de termos e como ela se configura atualmente. Evidencia-se, a importância de garantir condições adequadas de trabalho ao docente concebendo a escola como o local privilegiado onde acontece uma “construção coletiva de saberes e práticas”.
       De acordo com Júlio Diniz, em seu livro Formação de Professores (2000 p. 128) um bom “professor estrutura condições de aprendizagem ou cria condições favoráveis de aprendizagem, motivando o aluno a conhecer mais ou orientando-o a estudar, a resolver problemas.”
            Ainda segundo esse autor, (2000, p.131) o novo docente  que realmente enseja ser um bom professor e profissional  “deve ter compromisso com a tarefa de ensinar e com a formação e consciência crítica dos alunos.”
    Nesse sentido, transparece que se requer a participação, compromisso e profissionalismo  de todos os envolvidos com a Educação para que se obtenha bom êxito na resolução de todas as questões apresentadas
        No texto referente à formação docente na América Latina e no Caribe foi possível perceber que outros países, além do Brasil, “enfrentam o desafio de formular e implementar políticas educativas” capazes de  operar mudanças nesse quadro.
       Sobre a formação de professores da Educação Infantil e suas especificidades, fica claro a necessidade de uma reflexão por parte do profissional sobre a diversidade de suas tarefas e o comprometimento quanto ao respeito à vulnerabilidade da criança pequena
        O embasamento realizou-se através de Leis, Decretos e Pareceres citados.


 Trabalho apresentado à disciplina Formação de Professores do Curso de Pedagogia da Faculdade de Pará de Minas.

domingo, 7 de setembro de 2014

Uma vaga lembrança...


...de tempos e amores idos. A solidão não me incomoda, até gosto. Amar, muitas vezes, significa renúncia. E eu, eu renunciei demais. Custei a me reencontrar. Aos poucos vou conseguindo. Por isso, o amor e outros sentimentos eu prefiro deixar lá no fundo. Ás vezes, quando a poesia me assalta, e sinto essa nostalgia de momentos que vivi, e  de outros que inventei, eu vou lá e resgato alguma coisa, somente para dar um alento à alma. E vou seguindo com o que a vida -  que apesar de tudo foi generosa -  me oferece!

Canção do amor sereno


Vem sem receio: eu te recebo
Como um dom dos deuses do deserto
Que decretaram minha trégua, e permitiram
Que o mel de teus olhos me invadisse.

Quero que o meu amor te faça livre,
Que meus dedos não te prendam
Mas contornem teu raro perfil
Como lábios tocam um anel sagrado.

Quero que o meu amor te seja enfeite
E conforto, porto de partida para a fundação
Do teu reino, em que a sombra
Seja abrigo e ilha.

Quero que o meu amor te seja leve
Como se dançasse numa praia uma menina.

 Lya Luft, em "Secreta mirada", 1997.