sábado, 17 de janeiro de 2015

Análise de Discurso ---- 2

A Especificidade para a Análise de Discurso  

            De acordo com estudiosos, a Linguística possui dois núcleos: um “rígido”  que está em contato com a Sociologia, Psicologia, Filosofia, etc. Esse núcleo se ocupa da língua como se ela fosse apenas um conjunto de regras e propriedades formais, ou seja, não considera a língua produzida em outras estruturas históricas e sociais. O outro núcleo que se diz “instáveis”, ao contrário, se refere à linguagem produzida em outras conjunturas históricas. A Análise do Discurso pertence a essa última região, o que não significa que para ela a linguagem não apresente também um caráter formal. A AD tem uma base linguística regida por leis internas (morfológicas, fonológicas, sintáticas), sobre a qual se constituem os efeitos de sentido. Um dos efeitos de sentido que a AD se interessa é o da ambiguidade. Veja este diálogo:
STOCK: - Vinte anos atrás eu viva na base de sexo, drogas e rock’n roll!
WOOD: - Eu também!
STOCK: - Passava noite e dia viajando com ácido, escutando Jefferson Airplane...
WOOD: - Eu também!
STOCK: -...E fazendo sexo com  Bete Speed, minha noiva!
WOOD: - Eu também!
(Chiclete com Banana/Angeli)

            Na tirinha, a fala dos dois personagens possui um sentido de ambiguidade. Em termos linguísticos o que permite essa ambiguidade é a presença do pronome possessivo da 1ª pessoa “minha”. Outra questão é o advérbio “também” na expressão “Eu também”.
            A pergunta que os analistas de discurso fariam seria: por que essa ambiguidade gera riso? Mas para a AD seria pouco. A pergunta subsequente seria essa: qual o efeito da ambiguidade? A resposta reside na relação que os analistas de discurso procuram estabelecer entre um discurso e suas condições de produção, ou seja, entre um discurso e as condições sociais e históricas que permitiram que ele fosse produzido e gerasse determinados efeitos de sentido  não outros.
            É preciso esclarecer que, ao falarmos de especificidade da AD, que não há apenas uma Análise de Discurso. Classicamente considera-se “uma” que mantém relação privilegiada com a História, enquanto “outra”  privilegia a relação com a Sociologia. A Análise de Discurso que privilegia a História é de origem francesa e a que privilegia a Sociologia é anglo-saxã. Há, entre as duas linhas, uma diferença teórica: a AD anglo-saxã ou americana considera a intenção dos sujeitos numa interação verbal e a AD francesa considera que esses sujeitos são condicionados por uma determinada ideologia que predetermina o que poderão ou não dizer em determinadas conjunturas histórico-sociais.

            Apesar das divergências, há um elemento comum entre as AD e diz respeito à própria especificidade da AD: é o estudo da discursivização, ou seja, o estudo das relações entre condições de produção dos discursos e seus processos de constituição.

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