quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Antropologia

         Cultura popular, cultura erudita e cultura de “massa”

 Objetivo específico: distinguir as especificidades das culturas popular, erudita e de massa e nas relações entre elas.
Já vimos que, dentro de uma mesma cultura, podem existir várias culturas, com hábitos e costumes próprios. As sociedades, principalmente as contemporâneas, não são um todo homogêneo. Elas são complexas, compostas por grupos com diferentes origens, histórias, ambientes e padrões. Dentro das sociedades contemporâneas coexistem e interagem três tipos de culturas: a cultura popular, a  cultura de massa e a cultura erudita.
Dizer que a cultura popular é uma versão menos elaborada  e mais difundida da cultura de elite corresponde a uma comparação equivocada. Outra distorção é a consideração da cultura de elite como sendo uma produção de classe dominante e por isso conservadora.
O que é cultura erudita?
Erudição quer dizer instrução vasta e variada, adquirida, sobretudo, pela leitura. Ela se opõe ao rude e, em geral, é identificada com o conhecimento dos autores e artistas clássicos. É comum associar os clássicos com os gregos e romanos antigos, tomados como padrão intelectual. Clássico é também concedido aquilo que resistiu ao tempo e às flutuações da moda. Pode referir-se ainda, àquilo que marcou época, sejam personagens ou obras artísticas, filosóficas ou científicas.
O estoque cultural erudito é cultuado pela tradição e por suas instituições oficiais. Universidades, conservatórios, bibliotecas e museus costumam ser os locais de acervo e de acesso aos clássicos.
Como os bens culturais não são acessíveis de forma abrangente, a cultura clássica ou erudita é vista como algo apenas de elite. A elite cultural nem sempre  corresponde às elites econômicas e políticas, ou seja, aos ricos e poderosos. Como a maioria da população não foi criada junto àquele patrimônio cultural, poucos compreendem suas referências e apreciam seus detalhamentos. A cultura erudita tem o status de algo sofisticado e privilegiado, por exigir rigor na sua elaboração e público restrito, o que, às vezes, a torna ridicularizada.
            É vista como esnobismo, academicismo e formalismo, devido à exigência e requinte no seu cultivo não fazerem sentido para a maioria da população. Assim, ela é criticada pela pretensão de que seus padrões  sejam os únicos corretos ou superiores às demais expressões culturais. Como observa o estudioso de políticas culturais Teixeira Coelho, “O desprezo pelos diferentes, política e culturalmente, é, ao mesmo tempo, a consequência e o motor do elitismo” (COELHO,1999, p.164).
            Já a cultura popular é conhecida como aquela cultura anônima produzida pelo homem comum. Ela é, geralmente, transmitida pelos costumes e de forma oral e não pela escrita ou por instituições oficiais.
            É muito comum identificá-la ao folclore e ao artesanato. A rigor a palavra “folclore” quer dizer do povo, o conjunto de suas tradições e conhecimento. Normalmente, porém, usamos esse termo referindo-se às crenças, contos, ou canções de uma determinada época ou região. Quando se vê o folclore como  pitoresco e tradicional, ou seja, algo pronto e acabado, dificilmente  se percebe sua vitalidade, que absorve e transforma inúmeras influências de outros costumes. Às vezes, as transformações são tão rápidas que sentimos saudade daquilo que, há mais tempo, era a tradição. São várias as situações em que podemos perceber essas transformações. Podemos citar como exemplos a inexistência de alguns produtos nas feiras artesanais, as diferentes  coreografias nas festas juninas. O fato é que nunca se sabe ao certo onde e quando as inovações começaram e onde irão parar. Isso revela a dinâmica fluida e o anonimato da cultura popular.
            Muitas vezes, adotando-se a perspectiva clássica, considera-se a cultura popular como vulgar,  inferior e simplória. Ela é tida como irregular e sem muitos critérios, ou então como cultura que segue padrões muito variados e pouco originais. O que justifica a tarefa de seleção e organização de seus elementos, a qual os ocupantes dos lugares de poder  da sociedade atribuem  si próprios.
            Alguns estudiosos, como Câmara Cascudo, consideram, entretanto, que as manifestações culturais populares são como um resíduo da cultura “culta” (erudita) de outras épocas e que foram sendo filtradas ao longo do tempo. Clássicos que sobreviveram  adaptados e lapidados pelo povo.
            Em muitas situações, a defesa da cultura popular tem sido uma importante  bandeira na luta pela conscientização e valorização dos segmentos desfavorecidos da população. Para diversas pessoas preocupadas com a política cultural, o melhor seria resguardar a cultura popular, isto é, poupá-la de ser engolida pela cultura dominante e pela indústria cultural, pois seria a única forma de preservá-la. No entanto, a tentativa de preservar e estimular a produção da cultura popular não é tarefa fácil. É comum ver tais tentativas se inclinarem para um populismo que tenta tutelar a cultura popular. As práticas de proteção e incentivo à cultura popular descambam, muitas vezes, para uma postura assistencialista que, de certa forma, infantiliza o povo.
Outros julgam que o mais correto não é garantir as fronteiras para preservar a cultura popular, mas “botar lenha na fogueira” e deixar a “mistura ferver”, como a melhor de incentivar o livre trânsito dos sujeitos e objetos culturais em toda a sua multiplicidade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário