domingo, 2 de agosto de 2015

O Poeta do tempo

O homem que vinha ao entardecer
(Ouvindo “Sonho de Um Camponês”, por Teta Lando)

Falava com devagar, ajeitando as
palavras. Falava com cuidado,
houvesse lume entre as palavras.

Chegava ao entardecer, os sapatos
cheios de terra vermelha e do perfume
dos matos.

Cumpria rigorosamente os rituais.
Batia primeiro as palmas (junto
ao peito)
Depois falava.
Dos bois, das lavras, das coisas
simples do seu dia-a-dia. E todavia
era tal o mistério das tardes quando
assim falava

que doía.

Agualusa, em O coração dos bosques. 1991.






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