domingo, 26 de junho de 2016

Somos nossas marcas



            Por vezes acreditamos, que diante de determinados sofrimentos ou acontecimentos não suportaríamos a dor e com certeza sucumbiríamos. Isso, às vezes, até acontece com algumas pessoas, mas são casos que requerem uma observação mais profunda. Em diversas situações do dia a dia em que somos devastados por acontecimentos e que pensamos em desistir, com o passar do tempo, ainda que devagar, vamos retornando à vida. Isso porque, geralmente somos atingindos apenas em uma parte do nosso ser. As outras permanecem intactas, e são elas que nos servem de esteio nesses momentos.
            Trazemos em nós as marcas que buscamos ao longo da vida, aquelas que nos fizemos por gostarmos de algo, nossas preferências, nossas escolhas, e nossos bem quereres. Mas trazemos marcas que outros nos trouxeram, que imprimiram em nossa vida. São as marcas dos amigos queridos, dos familiares, colegas de trabalho, enfim pessoas com as quais convivemos e que às vezes, nos trazem um alento meio à tormenta. Essas marcas são os sentimentos que deixamos aflorar,  e que nos define como humanos, e que  nos transporta para o  mundo do outro, mesmo que não percebamos, porque é tão corriqueiro, tão cotidiano, mas é o que nos mantém de pé.
            Somos ensinados ao longo da vida que somos um só, com todas as nossas particularidades. Mas não é bem assim. Somos muitos, múltiplos, e estamos sempre acrescentando, renovando, transformando partes de nós em nós mesmos. Quando somos atingidos em um sentimento, lançamos mão de outros para suportar decepções, frustações, etc. E tem que ser assim, senão o mundo seria mesmo um vale de lágrimas. Porque todos temos problemas e sofremos em algum momento ou em vários.
            É certo que temos amigos, familiares, dispostos a socorrer em momentos de angústia, de baixa autoestima, porém nem sempre podemos recorrer a eles. Todos têm suas ocupações, e tudo é tão longe, e nem sempre queremos falar sobre aquilo. Muitas vezes, a dor que sentimos pede silêncio, pede solidão.É como aquele espinho que fincou tão fundo, que é melhor não mexer, por enquanto. Espera-se, com o tempo, que o próprio organismo o rejeite. Como um corpo estranho. Nesses casos, aos amigos, resta respeitar a atitude, o pedido mudo de compreensão, da necessidade de recolhimento.
            Existem almas que só se encontram ante a si mesmas por maior que seja a oferta de ajuda, precisam ficar sós, mudas. Existem almas que por sua delicadeza recebem os golpes muito mais profundamente. Ferem-se  diante da crueza dos fatos de tal forma, que é preciso um ato de cada vez a lhe juntar os pedaços, minuciosamente, uma parte de cada vez, para que não se lhe falte nada. E depois é preciso, com cuidado embalsamar tudo aquilo com muita serenidade para consolidar cicatrizes, que essas, sim, ficarão para toda vida.
             Felizmente, almas, principalmente aquelas que já foram felizes e que anseiam pela vida, são pródigas.   Aos poucos retornam e aí então, somente aí, elas vão buscar o abraço amigo, a palavra, o riso. E a vida recomeça, com nossas crenças, nossos acertos, nossas esperanças.
E marcas.

Lécia Freitas
Um dia, alguém me deu estas flores! Foi a maior marca que poderia me acontecer. Mudou minha vida!



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