sábado, 8 de outubro de 2016

A PALAVRA DITA


            
           Quando o conheci,  com a palavra perguntei --- quem é? E desde sempre já sabia. Antes que me falasse meu querer adivinhou. Que ele seria o que vim buscar. De tão longe, e ao mesmo tempo já estava dentro de mim.  Mas me diga, que culpa tenho se dele fiz meu caminho, quando era apenas minha margem, uma coisa dentro da outra.
            Eu já disse antes, o nome dele agora é mel lambente que grudou em minha língua. Que desse amor fiz meu abrigo, a razão. Andava ao redor dele como os bichinhos na luz. E minha alma cantava para esse amor como o vento canta no bambuzal. Eu olhava para ele e me via diluindo nesse amor.
             O meu amor é assim: muito além do real.  Ele cala qualquer palavra. O meu amor não chega: ele já está. Um amor assim, tramado, não é dito mas permanece em toda linguagem, seja das coisas, seja ele nos meus braços, na minha paixão. O meu amor vai estar sempre caminhando ao encontro dele e ultrapassa qualquer entendimento.
            Porque os sentimentos, assim com o “irremediável extenso da vida”, de que fala o poeta, não estão no real, nas rasuras. Tudo é achável no mais profundo, no que não é dito, no oco do vivente. E  isso se apresenta somente para quem busca.
            Como eu gostaria que agora, quando a natureza se queda diante da soalheira, ele se quedasse  diante do meu amor, e que um e outro dissesse tanto na mudez dos olhares, das mãos, do próprio corpo, e que tanto fosse dito, no real, ou não.
            Como eu gostaria que desde sempre ele percebesse o meu silêncio e o quanto de verbo ele atravessa. De quanto a minha alma transparece na signficação.
          Essa tristeza que vê em mim é por causa dessa dor. Como ser feliz se ele não está em mim? Depois que ele se foi nada mais nasceu em mim. De tudo que pode haver, nada há sem ele aqui. Apenas a solidão. Minha alma secou, emudeceu.. Tudo que eu queria é que ele estivesse aqui...como ser feliz assim dessa maneira?
Eu olho para o mundo e vejo as tristezas todas. Das coisas que vivi com ele, pratrasmente, essas não quero esquecer. É bom lembrar. Mas as de agora, essas pelejo pra esquecer. Mas o coração me alembra. E aí o mundo, eu olho para o mundo e é essa tristeza
           Mas esses lugares todos eu vivi ao lado dele. Eu vivi lonjuras no olhar dele, ainda vivo. Mesmo sem ele querer porque a saudade põe ele para sempre onde piso. Com meu amor eu lembro dele e me vejo nesse amor, que acreditei, eu acreditei!
            Nesta noite, eu queria poder gritar seu nome às estrelas...Eu queria gritar ao mundo e falar do meu amor! Porque dele sinto saudades, muitas saudades. E a saudade cavou seu escárnio em mim, despolinizou minhas entranhas, e riu, seu riso de morte, da minha dor...

                                                                                        Lécia Freitas













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