domingo, 6 de novembro de 2016

DE TUDO QUE EXISTE

        

            Não tenha a pretensão de achar que a sua verdade é a única, e a verdadeira! Fazendo isso, você estará negando a existência do outro. Porque somos nossas verdades. E você incorre no risco de  também ser negado já que somos o outro.
            Não acredite que aquilo em que acredita como ponto e referência de sua vida está pronto e acabado e é imutável. Nada é imútavel. Todas as coisas, as ditas, as não ditas, as concretas e as  abstratas, estão em constante mudança e efervescência. E devem ser assim, senão o mundo, a vida, seriam muito chatos. E tudo que existe lá fora, e aqui dentro, recebe a  influência de todos. Porque é o homem que muda as coisas. Todas as verdades, as estabelecidas, e aquelas que ainda virão. Para essas,  ele prepara tanto a semeadura quanto o celeiro.
            Mesmo o que já foi dito, e comprovado, pelos grandes da Antiguidade e agora pelos contemporâneos, é redito de acordo com a interpretação e necessidade de cada um. É comum se deparar com ideias já consagradas em falas de pessoas simples e aí você percebe que o que deve  ser verdadeiro quanto à dignidade e caracteres humanos não tem autoria, não tem procedência.
            Muito do que é declamado como norma de vida e que já foi amplamente divulgado, é a verdade de pessoas que nunca ouviram falar em normas e procedimentos éticos. O que comprova a existência de verdades, independente da vontade de alguns. Está na essência da pessoa. Muitas vezes o real está no não dito, por trás do escrito. Mesmo nesses tempos de comunicação.
            Portanto, se existem muitas verdades, isso significa que não são imutavelmente únicas e verdadeiras. Transformam-se de acordo com a realidade de cada um. Na verdade, a única certeza que temos é a da finitude de todas as coisas. Até das verdades. E das realidades. Que não acabam,  transformam-se.
             Quanto à morte de nós mesmos, isso não pode ser encarado como finitude. Temos as doutrinas que falam em vida pós-morte. E como duvidar? “Vai que...né!” Além disso, sabemos que quando amamos alguém e que ele se vai, fica a lembrança  desse alguém em nós. O que é uma forma de vida.  E essa é uma verdade que perseguimos, enquanto o coração dita. Já disse em outro texto que, para mim, a morte só alcança esse status de completude quando permitimos. Quando matamos o outro, até as lembranças, dentro de nós. O ser, o concreto, também não se acaba. Sabemos que voltamos ao pó de onde viemos. Aqui, também, comprova-se a existência das muitas verdades e de como elas se adequam às realidades de cada um.  É o que acontece com os grandes artistas, os pensadores, os profissionais,  e toda a espécie de  homens, os bons e os maus,  que se mantêm vivos por seus feitos, suas obras, seus pensamentos. E suas verdades.
             O alcance das coisas e das ideias só existem se houver a permissão do ser. Podemos negar a sua existência em nós o que é uma forma de morte. O que coloca em dúvida todas as verdades.
            Da mesma forma, o que é vivo dentro de mim, pode nunca ter existido para o outro.

Lécia Freitas




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