terça-feira, 31 de maio de 2016

Um presente, um mimo...inigualável!

Ganhei de uma grande amiga, alma ímpar, que viu meu interno sem adentrar muito a superfície, apenas com a sensibilidade.
Retrato poético da alma
Mora ali perto do infinito sorriso de uma flor noturna
Que no hoje semeia sementes na terra molhada
E no escuro que finda o dia faz da fala luz
E na manhã sendo borboleta se liberta das prisões
Envolvendo-se em fantasiosa poesia
Há em seu rosto o similar momento que a alma se acalma
E ensina através dos gestos a nos colorirmos de entusiasmo
Insiste em repousar as asas e sentir a chuva pela janela do quarto
Pois é assim que aprende a mourejar os obstáculos e ser mais segura
Não se mantém serena ao ver o outro definhar na tristeza
Salta de suas mãos um pouco de seu coração
Oferece o tudo e sabe a dor da gélida solidão
Seus passos são mosaicos de cores saltitantes
A decorar caminhos que o outro poderá passar
Leva a poesia da vida em seus ombros
Doando-se a um futuro onde as cores
Refletem seus sonhos de algodão
E as mãos do sucesso a abraçam
Levando seu caminho para a plenitude...

Ana Angélica

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Ao amor...

Passagem
De vez em quando a chuva cai molhando o solo
E em nós nasce um rio onde as histórias deságuam em etapas
Quando as alegrias seduzem o leito, o olhar se divide em dois
Invocamos a lucidez de ler o próprio destino, nas manhãs serenas
Ao impelir no céu da boca o sabor amargo
Surgirão mãos a oferecerem o mascavo discernir das ações
E deverá germinar em nós arrepios musicais
Proteção dos anjos a abolir as nossas queixas
Ao amor cante baixinho, pois poderá despertar olhares curiosos
E deixe o coração ser colo, ninho
Permita-se renovar a cada primavera
Ao ser mais uma vez flor, memórias felizes surgirão desde a raiz
A cada amanhecer sinta o vento alvoroçar o âmago de seu ser
Encontre as partes cálidas da alma
Assim saberá o quanto se coloriu
E quanto deixou de se colorir.

Ana Angélica



terça-feira, 24 de maio de 2016

Percepção

Aos poucos
vou me dando conta
de que a beleza da Vida
está em me permitir
ser dona de minhas próprias escolhas;
em ser livre para agir e reagir;
em vestir-me do caráter
que teci ao longo tempo;
em não precisar da aprovação dos outros
para existir;
em filtrar o que ouço
(sem querer saber o que houve)
para não me desorganizar por dentro.
O bonito da Vida
é ter ousadia em ajustar as lentes
para não perder o foco,
já que a força me sobra
e a Fé me conduz!
.
Inês Seibert

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Brasil, Brasil, Brasil

Pátria Minha

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos…
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu…
Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda…
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.
Pátria minha… A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
“Liberta que serás também”
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão…
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
“Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes.”

domingo, 22 de maio de 2016




Eu tenho duas alternativas: continuo com essa loucura, sendo, às vezes tão loucamente feliz quando consigo extrapolar a realidade de sua ausência, valendo-me do imagético surreal ditado pelo meu desejo, ou fico louca de vez e me interno no impossível da sua presença.

Lécia Freitas

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Sobre a dor do amor

O amor e os vincos

Quando você pensa que a vida acabou, vem um amor tardio e te dá “uma rasteira”. Porque junto com ele, vem todo aquele sofrimento do qual já se acreditava imune. Dor desgraçada de doída. Porque o amor, o amor não tem medidas! Ainda que não seja correspondido, ele existe, e dói!
Chega de mansinho, ou de supetão, tanto faz. Olha pra gente meio que surpreso, mas concede um brilho nos olhos, tinge os lábios, e realça uma beleza já apagada, esquecida. A música  do amor pode vir em sons de grilos num ritmo inesperado ou em mil badalos de sinos, num carrilhão universal. E vibrar para sempre, seja nas fibras de um coração, seja no infinito. E com todas as sinfonias combinar os liames de toda a ternura que há na Terra, para mitigar possíveis dores e amargos. E a felicidade que ele traz vai te fazer rir de coisas sérias ou de trivialidades, numa loucura sem compromissos.
E você se entrega àquele grego, como a um deus de verdade, que vem, não com raios ou tridentes, qualquer coisa ligada aos deuses gregos, mas tão real, como o personagem de Zorba, o Grego, com aquela touca preta, e um olhar penetrante, tão sensual, com os lábios cerrados e a barba que  não se importaria de roçar, e os cabelos compridos em que aprofundaria os dedos, ao mordiscar lóbulos e lábios enquanto viaja sem voar.
Você se desnuda por inteira, fala de desventuras, mostra cicatrizes e se extasia em fantasias.  Nem percebe a solidão. Nem percebe a busca pela saciedade no reflexo onde está espelhada uma sede que o próprio deserto inventou. Nessa vontade alucinada de amar, você quer para si todos os sorrisos, todas as cores, todas as flores. Espera, como uma noiva virgem, o rubor das faces, com  todos os beijos que pensa merecer. E acredita que vai perpetuar em suas entranhas o gosto do outro, que seus cheiros se confundirão, e que o amor, ah o amor, vai crescer em possibilidades.
Incauta. Esse mesmo amor vai fecundar tudo quanto era sentimento escondido, enterrado. Ele traz em si todos os verbos que já foram ditos e silenciados, além de criar outros, numa verborragia insana, só para entristecer mais ainda a expressão daquele amor. E você não vai conseguir fechar o coração aos lamentos. A dor não será menos violenta graças à muita história. Por isso mesmo, era de se esperar menos condescendência. Em vão. Cada amor é um, e revela em seu dorso, desejada  paz de andorinhas, canto de bem-te-vis, cheiro de fruta madura. 
Nessa hora não se acredita em aprendizado. Fica mais uma fibra a endurecer o vão  cavado na alegria. Em algum resquício  de sonho resta o corpo vagueando ímpar. Soçobra a dor que ficou no vinco.

Lécia Conceição de Freitas


terça-feira, 10 de maio de 2016

Sobre as idades do amor

Como na primeira vez

Quando a gente apaixona pela primeira vez, na adolescência, quase sempre somos uns monstrengos, com aparelhos nos dentes, a voz esganiçada, sem nenhum estilo, e com o corpo ainda em formação. Dá uma tremedeira danada quando encontramos a pessoa amada.
O tremor, no entanto, não acontece tanto pela vergonha que temos de uma hipotética feiura e falta de jeito. Ele acontece, com certeza pela emoção, porque volta, mesmo quando somos adultas e com conhecimentos para melhorar uma coisa ou outra na aparência. E assim, pela vida afora. Sempre ficamos inseguras diante de um novo amor. Temos medo da rejeição, da não aprovação.
Mas quando o amor acontece, já tardiamente, é muito pior. Temos argumentos de sobra, sabedoria, conhecimento de mundo. Podemos conversar sobre quase tudo, e conhecemos muito dos segredos de alcova. A vergonha ficou lá atrás, quando entre paredes. Espera-se muitos gemidos e sussurros, beijos sem fim, champanha em curvas, mordidelas em lóbulos, línguas e bocas. E amor muito amor!
Mas o que fazer com as rugas, com a flacidez? Como disfarçar a falta de agilidade em acrobacias e posturas, próprias de um momento em que se espera superar amores passados, garantir o  espaço. Alguns até valorizam inteligência, etc e tal., mas não se leva nada daquilo para debaixo de lençóis. E aí, vem o medo, a vergonha pelo tempo que passou, implacável, no próprio corpo, deixando marcas. e levando outras.
Nessa hora, diante do espelho, a frustração, quase leva a desistir, daquele deus, que apareceu numa espécie de milagre, uma vez que já não se esperava mais ninguém. Como disfarçar o tempo: não há mais brilho nos cabelos, não há elasticidade, não há curvas.
Ela lembra que passou a vida inteira sem se preocupar com isso, esperando placidamente os anos correrem. E agora este turbilhão de sentimentos a leva de volta  a um frenesi, a um desvario e ela gostaria de ter uns anos a menos para poder aproveitar. Não é qualquer dia que se apaixona dessa forma, nem qualquer pessoa.
O sentimento do amor não é mais nem menos forte de acordo com a idade. O amor é uma dádiva, é uma possibilidade de uma vida toda, e quando acontece, temos que receber e sermos gratos.
No entanto,  não há tempo de consertar nada antes de um possível encontro.
Mas, como sonegar um  amor que diante de tanta emoção, que aflora qual fonte  e escorre sobejamente,  te inebria, e ao mesmo tempo te atormenta, tão vivo, tão real, e você fica o dia todo pensando naquilo, sentindo até o perfume dele, a textura daquela pele que você acariciou e da boca que  quer beijar  tantas vezes, com o mesmo frêmito que te faz arrepiar ainda hoje?
Como sonegar este amor que  traz consigo, uma força incontida, que desarrumou a alma e a vida,  carregando em seu dorso essa adolescência tardia, e que, apesar de tudo, traz também uma doçura, um carinho, que por vezes, você  fecha  os olhos e vai lá no fundo resgatar um sentimento que te faz sentir parte de tudo?
Como sonegar um amor que, depois de tanto tempo, ainda faz você desejar mãos vigorosas  a percorrer curvas e pele num prazer que enlouquece e te retorna à vida?
Como sonegar um amor tão fundo, tão querido,  tão precioso, talvez o último a te acompanhar pela vida afora?


Lécia Conceição de Freitas

domingo, 8 de maio de 2016

Sobre a solidão

Um amor que eu tivesse...que eu teria

            Dia desses, indo ao médico e mencionando minha solidão, ele me alertava que é preciso ter fé. E me fala do  voluntariado para preencher vazios e tristezas. Eu acho que ele não entendeu meu desabafo, meu pedido de socorro.
            Eu acredito no trabalho voluntário e até admiro, mas não era disso que falava. E fé, eu tenho fé. Acredito numa porção de coisas, além da fé religiosa. Creio, principalmente, em transformações, advindas de uma vontade e de ações. Nada acontece só por se querer, é preciso fazer.
            Mas também não era disso que eu estava falando.  Eu falava dessa solidão que sinto enquanto observo os passarinhos namoriscando na beira do meu telhado. O homem é um bicho par, então cadê o meu? A solidão a qual me impus, numa época de minha vida, já não tem razão de ser. Deixou de ser necessidade para virar um fardo. Porque a tristeza de ser um não tem recurso.
            Voltando aos passarinhos   —é sabido que os amo  — distraio-me vendo suas idas e vindas e nos beijos que trocam a cada encontro, numa demonstração explicita de carinho. Fico pensando no turbilhão de carinhos meus que ficaram represados. Meu Deus, dou-me conta que minha vida se esvai e que não haverá tempo, nem ninguém para externá-los. Posso distribuir uma gama de sentimentos a outras pessoas, que convivem comigo e que fazem parte de minha vida e até ser feliz por isso, mas não é disso que falo. Filhos, a gente ama imensuravelmente, sem condições, mas eles não são nossos. Nós os criamos para a vida, e uma hora eles se vão. E tem que ser assim para que haja continuidade. Para eles seremos sempre a barricada, nas atribulações, podemos ser tanto a primeira quanto a última instância, o que nos outorga um poder, um privilégio, mas alcançada a calmaria, retornam aos próprios espaços, aos próprios pensamentos. E deve ser assim!
 Além disso, não há como transferir sensações de prazer nos diversos tipos de relações que temos ao longo da vida. Cada uma tem seu lugar e sentidos definidos. O ser humano é pródigo em fazer essa separação de sentimentos.
Eu falo do sentimento que nos coloca no mundo do outro como único. Aquele que se busca, em qualquer instante para compartilhar, para acrescentar. A quem se dirije o primeiro e último pensamento, na alegria ou na tristeza. Ao ver a flor...a chuva... o sorriso... a música... ou todas as cores... As coisas dessa vida,  os sentimentos ou as ideias. A pessoa que se escolhe para um caminho. O companheiro. O amante.
            É certo que tive amores! Sempre fui passional, intensa. Mas, vejo agora, não eram tão amores, já que se esgotaram. E amor, para ser prazeroso, tem que ser renovado a cada dia. Nada daquela submissão melodramática que se vê por aí. A  delícia do amor tem que vir junto com o respeito à individualidade. É preciso ser um primeiro, para aprender a ser dois. Na medida certa. E as pessoas que encontrei não tiveram essa medida. E aqui estou, sem arrependimentos, ou lamúrias, porém só, ímpar.
            Onde buscar um amor , não que preencha, mas que complemente? Onde buscar um amor que afague, não somente um corpo mas também e, principalmente, a alma? Onde encontrar um amor capaz de  suscitar emoções num esgotamento sem fim, em um paradoxo de matar de prazer quem anseia pela vida?
            Também é certo que por mais que o homem faça, a busca pela  riqueza, poder, nada disso se equipara à felicidade de ter a pessoa amada. Não como um brinquedo em que o prazer é de uma só via, mas sempre duplo, e em construção. Um amor que  leve a se emocionar com essas cores, essa luz de outono, essa paz de namoro de passarinhos
            Tudo o que se espera nessa vida é  que depois de travadas todas as batalhas cotidianas, ao fechar a porta,  haja dois braços que te acolhem, e que haja mãos suavíssimas em carícias, capazes de matar em momentos de paz que somente dois reconhecem. Em que se perceba o quanto  o outro é capaz de fazer pela própria felicidade e pelo amado. Para sempre ou enquanto dure.

Lécia Conceição de Freitas


sábado, 7 de maio de 2016

Sobre um amor

Enquanto houver poesia

Estes tempos modernos, de muita velocidade, não sei se fazem bem para o amor. Decide-se as coisas muito rapidamente.  Tão logo se conhece uma pessoa já se sabe tudo dela pelas redes sociais. Mesmo o mais simples dos mortais, fica fácil descobrir sobre sua vida. Mesmo se for tudo falseado, descobre-se. E assim perde-se muito da poesia. No meu tempo de mocidade, demorava um tempão para o rapaz criar coragem de nos dirigir a palavra. Era tudo muito ensaiado, ainda  assim a gente morria de vergonha. Os sentimentos ficavam camuflados.
Naquele tempo, moça direita, de família, não sabia o que era tesão. Essas coisas, e a palavra, descobri já madura. Meu marido me disse certa vez, que quando nos casamos, eu não sabia nem beijar. Questões relacionadas a sexo eram proibidas em conversas de moças casadoiras. Tudo era muito reprimido.
Eu penso, porém, que havia mais poesia. Pelo menos, quando a gente conhecia uma pessoa e se interessava, tinha um tempo para ficar sonhando. Qualquer atitude, qualquer acontecimento demorava para se tornar público. E assim, podíamos ficar divagando...Se o romance ia dar certo é outra história.
Hoje, com essa velocidade reinante, conhece-se uma pessoa, mas não convém criar sonhos, ilusões. De um minuto para outro, já se sabe, se vai "rolar". Basta enviar uma mensagem. Se a pessoa visualizar e não responder, esqueça. Não vai dar. Você pode arrancar os cabelos de decepção, mas o outro não está nem aí para você. Além de ser uma falta de educação, fica explícito que ele não quer conversa. E assim, não deu nem tempo para se instalar a poesia. Que me perdoem os insensíveis, mas há que haver poesia. Mesmo em gemidos e sussurros há que haver poesia, repito.
E aí a pessoa “lota” a caixa de mensagem. Manda frases de amor, figurinhas românticas e esdrúxulas, vídeos, áudios e nada, Continua no vácuo.
Uma coisa temos que reconhecer: a dor é a mesma! Tanto nos tempos de outrora, repressivos, das trevas, tanto nos tempos cibernéticos.
Não existe dor maior que a da rejeição, seja física ou psicológica, emocional. Como disse o autor “A dor de amor dói de se dar guinchos”. A pessoa não amada vê tudo que cuidou com carinho -o sentimento- ser desprezado. Aquele amor que ela acreditava ser precioso e desejado, ela vê ser jogado no lixo. O outro, o ser amado, nem percebe o sofrimento alheio. Pelo contrário, chateia-se com tudo aquilo e quer se ver livre logo. Não adianta os amigos, solidários, darem conselhos, levar para balada, passeios. A atenção, o carinho são válidos, porém, o que a pessoa quer é que o amado perceba o tamanho do amor, pelo tanto do sofrimento. E aí, dá-lhe músicas melosas. Nessa hora, não tem Pink Floyd, Led Zepellin que dê jeito. Desenterra-se todos os Detalhes e Cavalgadas do Roberto.
O que se tem a fazer, então, é morrer de tanto chorar. Morrer de tanto ter pena de si mesma, até a dor passar. Até o amor acabar, esgotar.
Com o tempo quem sabe, acreditar novamente no amor e esperar alguém... E se depois de tudo não restar pedra sobre pedra, medrará  a poesia.

Lécia Conceição de Freitas


quarta-feira, 4 de maio de 2016

Repensando


A TERCEIRIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL

A terceirização do trabalho no país existe a algum tempo no que concerne, por exemplo, na limpeza e segurança, de grandes empresas. No entanto, a regulamentação permitindo a terceirização de outras atividades, com um Projeto de Lei,  gerou bastante discussão  no meio político e na sociedade. As opiniões contrárias argumentam que esse tipo de trabalho podem camuflar  o trabalho irregular, gerando  fraudes, especialmente no que tange às leis trabalhistas. Isso porque, de acordo com  um estudo realizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), as empresas terceirizadas têm como características, entre outras, o fato de se trabalhar mais e ganhar menos, comparados aos empregados contratados. Segundo MACHADO, Procurador do Ministério Público do Trabalho em Piauí, “nem o governo federal acredita na idoneidade das empresas terceirizadas”.  A terceirização torna mais precários os serviços prestados e desrespeitam o trabalhador ao negar os direitos que lhe são próprios, e que se submetem por estar  em situação desfavorável e sem outra opção de emprego.
Contudo, esse não é o principal motivo da polêmica em torno da regulamentação do projeto de Lei. Segundo o texto apresentado para análise, “a justificativa para a terceirização é a redução de custos, melhoria da competitividade, acesso à tecnologia e mão de obra especializada.” Esses argumentos seriam imbatíveis não fossem os dados elencados pelo DIEESE, que mostra a grande ocorrência de mortes entre os trabalhadores terceirizados.  Numa comparação com os dados obtidos em uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), referentes aos motivos que levam uma empresa a optar pela terceirização, e de acordo com uma pesquisa realizada na internet, em diversos sítios eletrônicos,  a redução dos custos citada em  primeiro lugar, “ocorre devido aos baixos salários, ao aumento da jornada de trabalho e à falta de investimentos na melhoria de condições de trabalho.” Esses dados comprovam a precariedade na terceirização e o risco enfrentado pelos trabalhadores.
Diante das circunstâncias, pode-se afirmar  que a aprovação do Projeto de Lei citado, deve ser bem discutida  uma vez  que a terceirização do trabalho no país,  ainda se apresenta em um molde de trabalho “arcaico e desumano”, em que visa somente o lucro dos empresários, sem preocupação alguma com o trabalhador, seu bem estar e o de sua família. Além disso, de acordo com o texto apresentado, parece proceder, o temor dos contrários ao Projeto de Lei 4.330/2004, no que concerne ao desrespeito às leis trabalhistas. Sendo assim, a população e principalmente os trabalhadores, com seus sindicatos e órgãos representativos, devem lutar a favor da valorização dos trabalhadores e em prol de melhores condições de trabalho.


REFERENCIA BIBLIOGRAFICA

SUBSEÇÃO DIEESE - CUT Nacional, Secretaria das Relações de Trabalho/CUT, Secretaria da Saúde do Trabalhador/CUT Terceirização e Desenvolvimento, uma conta que não fecha. DIEESE/CUT: São Paulo, 2011. Disponível em:

Acesso em 15/09/2015.

Lécia Conceição de Freitas

terça-feira, 3 de maio de 2016



"ONDE NÃO PUDERES AMAR NÃO TE DEMORES”


Sai, corre logo. Afasta-te das ventanias cruéis que ameaçam revirar-te a vida e os sonhos pelo avesso. Aqueles pedaços de histórias rotas e cerzidas, atiradas no cesto de roupas de sorrir — e que já usaste tantas vezes em festas enxovalhadas. Foge das tempestades. Das estradas sem rumo. Das folhas ressequidas, espalhadas em terrenos áridos e desconexos.
Rejeita os lábios que não beijam mais e dos quais escorre apenas amargura, fel e impropérios. Sim. Tranca a porta, os ouvidos, a sensatez e vira as costas sem remorsos para tudo o que te causa mal e tristezas. Teus dias pinta-os com aquarelas leves e doces, mescladas a tons pastel.
As horas não devem ser transformadas inexoravelmente em cinzas, quem te disse? Embora saibamos que se trata de horas mortas, inertes em relógios de parede enferrujados pelo cansaço. Relógios, cujos ponteiros foram derretidos pelos vastos incêndios que se apossaram silentes da tua alma atônita.
Sai! Despede-te rapidamente das águas turvas, habitadas apenas por sinuosas enguias. Não enxergas peixes dourados, nem vermelhos? O lodo não te serve, então. Tampouco a escuridão de um dia sem sóis nem estrelas. As árvores morreram alguns tocos ainda repousam no jardim abandonado. Raízes secas gemem por água. Mas o jardineiro se foi, levando junto com as despedidas os antigos cuidados dispensados ao verde que aí vicejava.
Há esconderijos disponíveis para cultivar a paz. Um sentimento que parece ter escorrido pelas vielas de tempos imorredouros. Olha e te surpreende. Pois há linhas de seda para tricotar novas promessas de amores leves, já nascidos com asas. Amores azuis que flertam com a presença suprema da liberdade.
Se porventura entrares num bar escuro e sujo e perceberes que os frequentadores flertam somente com o álcool mantendo o rosto duro, impassível e macilento. Os olhos de pedra fosca cravados no fundo do copo, no qual mágoas flutuam sobre escassas pedras de gelo, não te aproximes. Abandona o recinto. Pois aí não há amor. Somente amarguras e nostalgias graves e empoeiradas
Foge também de quem tiver o aperto de mão indiferente e áspero, os sorrisos ausentes no rosto exausto de mentiras, o nariz empinado de arrogâncias vãs.
Despreza indivíduos sem ouvidos, concentrados em lamber unicamente a própria fala. Àqueles aficionados em solilóquios, em discursos sem eco, voltados regiamente para o próprio espelho das vaidades, adornado pelo gigantismo do ego.
Alheia-te também de quem perdeu os braços de abraçar. Esqueceu-se de abrir as janelas para as visitas das alvoradas e lacrou os sentidos para os cantos felizes dos pássaros matutinos.
Os que não regam plantas. Pais que esquecem crianças trancadas no carro, enquanto se deleitam em levianas compras nos shoppings. Não entres jamais em casas onde não se escuta música, aonde o fogão chore de desusos, sem o cheiro vivo do feijão fumegando delícias.
Não te acomodes nunca em mesas sem toalhas, copos, nem talheres, antes destinados a servir convidados sempre ausentes. Ninguém aparecerá para o almoço inexistente. Pois faltam amor e acolhimentos.
Não te esqueças de cerrar em seguida as cortinas do coração para os que desprezam a luz, as cirandas e as crianças. Os que chutam por tédio pequeninos animais órfãos, perdidos a esmo nas ruas. Refuta com veemência as trepadas mornas e maquínicas exigidas pelo marido ou namorado, cujas ardorosas amantes tu intuis, certamente.
O bom sexo demanda uivos gloriosos, saudáveis e selvagens desatinos. Assim, aguarda paciente pela entrega plena e desarmada. Ela virá sem avisos prévios e te surpreenderá com danças e valsas. Recusa de imediato o namoro insípido, porque não há sal que dê jeito em afetos falidos.
Outro alerta: desanda a correr da inveja, do escárnio, do ódio fantasiado de gentilezas em oferta. Todas elas por R$9,99. Este pacote de desmazelos se acumula no enfado e no desamor de lojas vazias. A maldade ronda a vizinhança, se intromete em eclipses, passeia com os pés descalços em imensos desertos brancos.
Mas lá tu não irás, temos certeza, pois falta amor — teu coração já anunciou. Além disso, felizmente também contas com os afáveis sussurros da natureza, que entremeiam tuas histórias e caminhos, sempre rodeados de ideais e de esperanças.
* A frase-título desta crônica é da atriz italiana Eleonora Duse — falsamente atribuída a pintora mexicana Frida Kahlo e ao poeta e escritor brasileiro Augusto Branco.
Por Graça Tagusti em COLUNISTAS