quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO





Direitos de Portadores de Necessidades Especiais

            PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO (Ponta Grossa: Ed.UEPG, 2009. 239 p. il.) de Maria Odete Vieira Tenreiro e outros professores da Universidade Estadual de Ponta Grossa PR, traz estudos referentes à psicologia para o estudante que se embrenha nessa área. Dividida em sete unidades de ensino,  eles apresentam nessa obra, os aspectos históricos da psicologia e sua relação com a educação, o desenvolvimento da aprendizagem e as perspectivas das teorias que enfatizam o objeto de estudo e das teorias que focalizam o sujeito. Apresentam conceitos e proposições pertinentes às concepções teóricas presentes nas práticas pedagógicas, ressaltando as concepções interacionista e os aspectos peculiares do desenvolvimento humano na adolescência com o propósito de refletir sobre o sujeito da educação e sua identidade como pessoa.
            Na sétima unidade, sobre A INCLUSÃO NAS ESCOLAS E O PAPEL DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO (pgs de 153 a 170), subdividida em três partes  em que se conceitua inclusão e um pouco da história dos movimentos da sociedade em relação às pessoas com necessidades especiais;  o desafio nas escolas para que as diferenças sejam aceitas e que essas pessoas tenham oportunidade de construírem seu conhecimento, apesar de suas limitações;  as ideias de Piaget e de Vygotsky sobre as diferenças, no que diz respeito às possibilidades de todas as pessoas, inclusive as com necessidades especiais, de serem educadas, desenvolverem-se e participarem da vida da comunidade e que reforçam as ideias positivas dos autores.
            Os autores citam Sassaki (1997) ao conceituar inclusão social como um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas gerais, pessoas com necessidades especiais para que tenham condições de assumir seus papeis na sociedade. Os autores afirmam que ao se discutir o desenvolvimento e aprendizagem humana, é necessário entender que as pessoas com necessidades especiais se desenvolvem como qualquer outra nos aspectos, biologico, psicológico e social. Sendo assim, deve-se compreender que elas têm sentimentos, agem sobre os objetos e podem se expressar  como qualquer outro indivíduo. Existem, na atualidade documentos que asseguram a todo  cidadão o direito legítimo de desenvolver e aprender
            Esses direitos tiveram seu início em 1981 em Singapura, de acordo com Sassaki (1997), por meio de uma organização não-governamental de pessoas deficientes físicas, denominada “Disabled People’s International”que elaborou uma declaração de princípios, em que definiu a ideia de equiparação de oportunidades e proclama que todos os sistemas gerais  da vida na  sociedade  devem ser acessíveis a todos os cidadãos. Nesse sentido, devem ser eliminadas todas as barreiras que impossibilitam a plena participação das pessoas com necessidades especiais em todas as áreas. A ideia de inclusão, portanto, segundo os autores, exige que a sociedade se modifique para acolher as pessoas que nela existem, de forma adequada, possibilitando seu desenvolvimento e que crie  alternativas para que as pessoas com qualquer deficiência  possam conviver com os demais nos mesmos locais e atividades das pessoas de sua idade, e respeitada em suas limitações.
            A finalidade  da DPI  em seu Art.1, Inciso 2, é obter a justiça com a igualação das oportunidades para todos os povos com inabilidades através do desenvolvimento da sustentação de suas organizações (DPI, 1993, p. 2). Esses princípios são fundamentais para a construção de uma sociedade democrática. Relembrando que a Educação é um direito de todos, conclamado na Conferência Mundial da Educação na Tailândia em 1990, e que a educação pode contribuir para um mundo melhor em todos os aspectos e de favorecimento para o progresso pessoal e social de todos os seres humanos.
            Os autores reconhecem que a educação hoje é deficitária e que deve ser melhorada em sua qualidade e estar universalmente disponível para todos. A declaração mundial sobre educação traz ideias sobre como todas as pessoas devem ter acesso a ela. No documento elaborado durante a Conferência Mundial sobre necessidades educativas especiais em  Salamanca, com o patrocínio da UNESCO na Espanha colocou-se as bases da inclusão de todas as pessoas na sociedade,  que garante a educação de qualidade para as pessoas com necessidades especiais.
            Segundo eles, é necessário que se estabeleça políticas escolares que reconheçam e  considerem a diversidade, subsidiando a elaboração de propostas pedagógicas inclusivas e, também, que cuidem da organização e implementação de programas de formação continuada para professores e educadores, nos quais exista um espaço para a reflexão sobre a prática educativa inclusiva, para a efetivação do processo de ensino e aprendizagem dentro do contexto escolar, atendendo as necessidades e especificidades de todos os alunos.
            Os autores afirmam que a inclusão exige de toda comunidade escolar uma tomada de consciência de seu papel nesse processo exigindo  uma reorganização nas escolas, tanto com a adequação do espaço escolar às diversas especificidades de cada pessoa com necessidades especiais que deverá acolher, quanto com os currículos esolares, objetivando  assegurar que todos os alunos possam ter acesso a todas as gamas de oportunidades educacionais e sociais oferecidas pela escola. Nesses ambientes educativos ensina-se os alunos a valorizar a diferença, pela convivência com seus pares, pelo exemplo dos professores, pelo ensino ministrado nas salas de aula, pelo clima socioafetivo das relações estabelecidas em comunidade escolar, não excluindo nenhum aluno de suas classes, de seus programas, de suas aulas, das atividades e do convívio escolar mais amplo, em   contextos educacionais em que todos  têm possibilidade de aprender, frequentando uma mesma e única turma.  O deficiente é uma pessoa com direitos. A sociedade precisa mudar seus conceitos,  e essa mudança só acontecerá quando o valor de cada pessoa for reconhecido pelo grupo. Nesse sentido, a opinião dos autores contribuem de forma confiante para que haja transformações que beneficiem os portadores de necessidades especiais.
            Piaget e Vygotsky os dois autores interacionistas reconhecem os direitos de todas as pessoas para que possam desenvolver suas potencialidades e conviver em igualdade de condições na sociedade, desde que lhes seja dada essa oportunidade.    Piaget (1971, apud AJURIAGUERRA, 1987, p.135) explica que: [...] não se limita à constatação do êxito ou do fracasso em uma determinada prova, mas também possibilita analisar a atividade manifestada pelo sujeito e que está em relação com suas aquisições anteriores, com sua capacidade de integrar o novo ao já adquirido, sendo possível  obter-se um quadro que não evidencia o déficit, mas também um quadro positivo do funcionamento, de suas possibilidades de adaptação e de utilização de ajudas externas” Isto significa que, para Piaget, são as escolas que devem se adequar aos alunos inclusos, oferecendo reais oportunidades para que possam se desenvolver e viver bem e que se a classificação e destinação das pessoas a um sistema escolar específico trazem benefícios ao desenvolvimento de sua escolarização.
            Vygotsky acreditava que cabe ao grupo, desenvolver as potencialidades  das pessoas com necessidades especiais,  dentro do seu contexto social, oferecendo estímulos adequados, capazes de desenvolver suas funções psicológicas, em particular a criança com atraso mental. Vygotsky acreditava que o papel da escola é fundamental ao possibilitar o despertar dos processos internos do desenvolvimento pelo aprendizado e que é competência dos grupos socias  providenciar para que isso aconteça. Ele se preocupava com a segregação das crianças com necessidades especiais dentro de instituições e separadas do mundo real, o que realmente, é uma possibilidade. Sendo favorável  à inclusão, Vygotsky acreditava que  não importa as diferenças. Todas as pessoas podem conviver realizando trocas uma possibilitando o desenvolvimento da outra.
            O estudo favorece uma reflexão acerca do comportamento da sociedade em geral, quanto ao tratamento dispensado às pessoas com necessidades especiais, em especial aos profissionais da educação e sugere a necessidade de mudanças. Deve ser analisado pelos estudantes e também por profissionais da área, por subsidiar princípios que fundamentam umabverdadeira sociedade democrática, que garante os direitos de todo cidadão.

Lécia Freitas


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