segunda-feira, 31 de julho de 2017

O tempo


Esse vento que levanta o pó e que tira as coisas do lugar, lá no quintal, também empurra o tempo. Eu vejo na minha pele que se craquela cada vez mais. Eu sinto nas frestas de luz em minha sala, e que movimentam as sombras dos meus fantasmas.
Os meus fantasmas! Meus companheiros, porque nunca me abandonaram. Como esse cão que se emborca temendo um pontapé que nunca darei. Direis da minha triste solidão. É verdade, nunca estive tão só como agora. Apesar dos fantasmas que me gritam em silêncio do que eu não tive. Do que não fui capaz de obter! Nunca estive tão só. Porque busco renegar a própria solidão. Não mais faço dela uma presença. Antes, era concreta, era palpável, mostrava uma dor que eu não queria, não aceitava. Saía do meu poço e enfrentava todos os meus moinhos. Mas o tempo, ah o tempo, corroeu tudo e não existe mais nada. Não há solidão. Solidão é a ausência de alguém que nunca veio. Então espera-se. Não há mais espera. Não há mais nada.
Lécia Freitas




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